O que é o cancro?
O cancro é uma doença caraterizada pelo crescimento incontrolável de células anormais/malignas.
Diariamente, o nosso sistema de defesa elimina inúmeras células anormais devido a erros genéticos. O cancro surge quando este sistema falha, permitindo que estas células se repliquem de forma não controlada.
Este crescimento anormal pode ter origem em todos os órgãos do corpo humano, podendo iniciar a sua proliferação num órgão (por exemplo, o estômago, a mama ou a bexiga), e numa fase avançada da doença pode atingir outros órgãos (metastização).
Diz-se que o cancro não é uma, mas várias doenças. Porquê?
Apesar de a palavra ser usada de forma pouco precisa, podemos, de uma forma geral, dividir os tumores malignos/cancro em dois grandes grupos:
1. Os tumores hematológicos (do sangue), que incluem, por exemplo, as leucemias, os linfomas e o mieloma múltiplo;
2. Tumores sólidos como o cancro da mama ou o cancro do cólon e reto. Apesar de todos serem considerados “cancro”, e por vezes apresentarem alguns aspetos semelhantes, estes são diferentes na sua capacidade de crescimento, de metastização e de resposta ao tratamento. Exemplo desta variabilidade são também os tratamentos, existindo alguns cancros que são tratados apenas com fármacos, como quimioterapia ou outras terapêuticas-alvo, outros com cirurgia, e ainda outros com combinação de tratamentos como quimioterapia e radioterapia.
O que leva umas pessoas a terem e outras não?
Como descrito anteriormente, o cancro resulta de alterações genéticas celulares não detetadas que levam a um crescimento celular descontrolado.
Essas alterações genéticas podem ser causadas pelos chamados fatores de risco, como:
1. O tabaco, associado ao cancro do pulmão, cabeça e pescoço, esófago, bexiga;
2. O álcool, associado ao cancro do pâncreas e fígado;
3. Os hábitos alimentares, associados ao cancro do estômago, cólon e reto;
4. A exposição solar, associada ao cancro da pele;
5. Doenças/patologias inflamatórias crónicas como a D. Crohn ou a colite ulcerosa, associadas ao cancro colorretal;
6. Algumas infeções como VIH, HPV, EBV, associadas a sarcoma de Kaposi, cancro do colo do útero e cancro da cabeça e do pescoço.Uma outra percentagem dos tumores malignos está associada a mutações genéticas específicas, que podem ser germinativas (transmissíveis de geração em geração), também chamadas síndromes hereditárias, ou, devido a alterações genéticas somáticas que surgem no próprio indivíduo e que não são transmissíveis de geração em geração.Uma das mutações mais conhecidas é no gene BRCA1/2 que pode estar associada a uma síndrome hereditária, ou não, aumentando o risco de forma significativa, não só de cancro da mama e ovário mas também de cancro da próstata e do pâncreas.
Porque é tão difícil descobrir a cura?
É importante relembrar que os avanços na área da Oncologia têm sido muito significativos.
A sobrevivência dos doentes oncológicos aumentou de forma significativa comparativamente, por exemplo, aos anos 70, tendo como exemplos principais o cancro do pulmão e da mama.
O cancro é uma doença complexa e, por isso, uma “cura” universal não será possível, sendo que esta dificuldade é justificada por várias razões.
Existem vários subtipos histológicos dentro do mesmo “cancro”, tendo estes diferentes comportamentos e diferentes respostas ao tratamento.
Além dos diferentes tipos de cancro, cada um apresenta uma série de alterações genéticas que são mutáveis e que se acumulam ao longo do tempo.
As células malignas são peritas em manterem-se vivas e perpetuarem o seu crescimento, conseguindo desenvolver novos mecanismos de ação para esse efeito.
Assim se explica que um tratamento possa numa fase inicial ser eficaz e posteriormente deixar de o ser.
Muito mais do que uma “cura universal”, o futuro da Oncologia é uma medicina personalizada: cada pessoa é singular, desde a sua base genética até à forma como tolera o tratamento.
Quais os principais mistérios que ainda existem em relação ao cancro?
Apesar de todos os anos emergir novo conhecimento no que diz respeito a mecanismos de ação, alterações genéticas e novos tratamentos, muito ainda continua por descobrir.
Os estudos multiplicam-se em todos os grupos de patologias malignas e vão desde a ciência básica até à terapêutica, tentando perceber qual o impacto na sobrevivência e qualidade de vida dos doentes. Muito ainda continua por desvendar, o que torna a Oncologia uma especialidade única.