Os pacientes que precisaram de ficar internados ou de cuidados intensivos graças à Covid-19 podem ter ficado com sequelas por causa da infeção, mas não são os únicos. Segundo um novo estudo, os seus familiares podem desenvolver stress pós-traumático por vê-los naquela condição.
Para tentar perceber quais são as sequelas psicológicas destes familiares, um grupo de investigadores entrevistou familiares nos meses após um ente querido ter sido internado na UCI com Covid-19 em 12 hospitais dos Estados Unidos. Dos 316 familiares, que na sua maioria não podiam visitar os doentes, 201 (cerca de 63%) apresentavam sintomas significativos de stress pós-traumático.
Das causas mencionadas, a maioria dos familiares destacou a mudança abrupta das circunstâncias do doente, a necessidade de tomar decisões difíceis, referindo ainda que sentiram que já não tinham o controlo da situação.
“Os membros da família com pontuações mais altas descreveram mais comummente sentimentos de desconfiança e preocupação com a necessidade de aceitar as informações dos médicos sem estar presente para ver por si mesmos”, lê-se no artigo.
Timothy Amass, professor assistente de medicina da Escola de Medicina da Universidade do Colorado, explica que ter um ente querido internado nos cuidados intensivos sempre foi um processo stressante, “mas a pandemia de Covid-19 levou os investigadores a olhar ainda mais de perto para os impactos”.
A maioria dos indivíduos era filho (40,6%) ou cônjuge ou companheiro (25,5%) do doentes internados. “Estes dados, combinados com análises qualitativas recentes, destacando a centralidade da restrição de visitas e comunicação fraturada com os profissionais de saúde como principais causadores de sintomas de stresse familiar, apoiam a hipótese de que a restrição de visitas desempenha um papel no aumento de transtornos relacionados ao stresse em membros da família que não puderam estar perto dos familiares gravemente doentes”, concluem os especialistas.
Apesar da crise, houve locais que tentaram atenuar os sentimentos das famílias. “O que facilitou foram as videochamadas e atualizações diárias. Liguei e conversei com as enfermeiras todos os dias, conversei com o médico”, disse um dos familiares que participo no estudo. Amass revela que muitas vezes são pequenos atos de bondade que as famílias precisam para sentir a sensação de envolvimento e cuidado para que se sintam melhor. No entanto, outros entrevistados sentiram que a comunicação foi limitada e afirmaram sentir-se impotentes e com medo.