O nome é estranho, mas a doença é relativamente fácil de definir: a polipose nasal é uma condição em que há um crescimento anormal de tecido no revestimento do nariz, formando pólipos, e que pode provocar uma sensação constante de nariz entupido, dor de cabeça e uma perda parcial (hiposmia) ou total (anosmia) do olfato. “Como sempre fiz desporto, a obrigatoriedade em respirar pela boca é bastante limitativa e não facilita a ventilação das zonas periféricas do pulmão. Mas emocionalmente, a hiposmia e anosmia têm uma ação desmoralizante no convívio social”, começa por explicar à VISÃO João Costa, endocrinologista que sofre desta doença.
Também a filha, Adriana Costa, foi diagnosticada com polipose nasal há cerca de três anos, que a faz ter constantemente o “nariz completamente entupido, sem cheiro e com a sensação de ter uma bola de líquido dentro”.
Em Portugal, estima-se que a prevalência de rinossinusite crónica esteja entre os 5,5% e os 28%, sendo mais comum em fumadores. “Um subgrupo dos doentes que têm rinossinusite crónica, cerca de 30%, desenvolvem alterações degenerativas da mucosa nasal, clinicamente descritos como pólipos nasais, que não são mais do que mucosa nasal inchada como resultado do processo inflamatório”, explica, por seu lado, Vítor Oliveira, médico especialista em Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial no Hospital de Santa Maria e no Hospital Lusíadas, em Lisboa.
Estes pólipos nasais obstruem a drenagem dos seios perinasais – cavidades ocas dentro do crânio, revestidas por uma membrana mucosa, composta por células que produzem muco – e bloqueiam a passagem do ar, comprometendo a sua função.
De acordo com o médico, além dos fumadores, os doentes com asma alérgica são, “sem dúvida” um subgrupo em que a “história natural da doença” pode fazer com que haja desenvolvimento de pólipos. “Estes doentes têm, geralmente, o início dos sintomas de asma na idade adulta, e são cerca de metade da população com rinossinusite crónica com pólipos”, esclarece o especialista. Também os doentes com alergia a anti-inflamatórios, alterações genéticas, imunodeficiências, doenças autoimunes ou alergia a fungos têm maior propensão de vir a ter polipose nasal, correndo um risco maior de se desenvolverem complicações. “Estes doentes exigem, frequentemente, estudos e abordagens específicas diferenciadoras da doença alérgica asmática”, acrescenta ainda Vítor Oliveira.
“É, sem dúvida, a perda do olfato, que está presente em 90% dos casos, que maior peso tem na qualidade de vida destes doentes”
Para Adriana Costa, esta doença causa-lhe, sobretudo, “alguma frustração, ansiedade e stress”, principalmente devido à sensação contínua de ter o nariz obstruído. Os doentes com polipose nasal apresentam até duas vezes mais fadiga devido a perturbações do sono comparativamente a doentes com asma ou problemas cardíacos, por exemplo, o que tem um impacto grande nas suas atividades diárias, tanto sociais como profissionais.
“Mas é, sem dúvida, a perda do olfato, que está presente em 90% dos casos, que maior peso tem na qualidade de vida dos doentes, o que pode contribuir para aumentar os níveis de ansiedade e depressão”, esclarece o médico, acrescentando que existe, também, “um risco aumentado de eventos que ameaçam a vida dos doentes, devido à diminuição da perceção do olfato de odores nocivos como gás ou fumo”.
Neste momento, o tratamento da polipose nasal, que deve ser adaptado a cada doente, passa por lavagens nasais, inalações de corticoides, ciclos de corticoterapia sistémica, antibióticos ou até mesmo cirurgia, explica o médico. “Mesmo assim, cerca de um terço dos doentes pode necessitar de nova cirurgia por recidiva da doença”, esclarece.
Adriana Costa toma, diariamente, Singulair, medicamento usado no tratamento da asma, e Nasomet, um corticosteroide utilizado para diminuir o desconforto de irritação no nariz, corrimento e obstrução nasal, mas também no tratamento de pólipos nasais. Já o pai, João Costa, diagnosticado há mais de 20 anos, fazia “corticoides nasais com fracos resultados e, no início das férias, corticoides orais de cinco dias, com comparticipação estatal”. O médico participou como voluntário num tratamento alternativo à cirurgia da polipose nasal e, por isso, neste momento, não faz qualquer tipo de tratamento.
Existem, agora, tratamentos inovadores autorizados e comparticipados para o tratamento destes doentes. “Os fármacos biológicos, anticorpos monoclonais, procuram bloquear os efeitos modeladores da inflamação que predispõe à polipose”, afirma Vítor Oliveira. Esta nova modalidade de tratamento, que já é utilizada no tratamento da doença asmática grave e urticária crónica, permite, no caso da rinossinusite crónica, um controlo da doença com redução dos pólipos e dos sintomas, como a obstrução e o bloqueio nasal, melhorando o olfato e reduzindo a dependência de corticoides. Este tratamento, explica o médico, pode até ajudar a reduzir a necessidade de cirurgia.