A disfunção erétil é uma das disfunções sexuais masculinas mais comuns, com vários estudos que indicam uma prevalência de até cerca de 54%, dependendo do grupo etário e fatores de risco. Acredita-se, também, que as causas psicogénicas, como sofrer de depressão e ansiedade, ter histórico de eventos traumáticos ou certos traços de personalidade contribuam para cerca de 10 a 20% dos casos de disfunção erétil.
“Existe uma relação bidirecional entre a depressão e a disfunção sexual: se, por um lado, a depressão aumenta significativamente o risco de disfunção sexual, a última também aumenta o risco, ou agravamento, de quadros depressivos”, explica à VISÃO André Ribeirinho Marques, Psiquiatra e Sexólogo Clínico e Coordenador da Consulta de Sexologia do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental.
Uma pessoa deprimida tem um estado de humor persistentemente deprimido, uma capacidade menor de experienciar prazer, mas também sofre alterações em funções vegetativas como o sono, o apetite e o desejo sexual. Para os homens que sofrem de disfunção erétil, consequência de uma depressão, o impacto nas suas vidas é muito grande. “O sentimento de vergonha leva a um atraso de vários anos na procura de ajuda especializada. Isto provoca um inevitável agravamento do problema, que é condicionado por elevados níveis de ansiedade, diminuição de autoestima e autoconfiança”, esclarece Ribeirinho Marques.
De acordo com o especialista, este problema torna-se uma bola de neve sem tendência para diminuir, com impacto em todas as esferas da vida, até mesmo profissional. “Não são raros os casos em que a disfunção leva à perda total de atividade sexual e à ausência de comunicação sobre o problema entre o casal, o que cria conflitos relacionais por uma errada perceção do problema, muitas vezes entendido como diminuição do desejo ou amor pelo outro elemento da relação, podendo culminar em ruturas conjugais”, refere ainda o médico.
Tratar o físico e o psicológico. E normalizar sempre
“Tal como as causas da disfunção erétil podem ser multifatoriais, também o seu tratamento deve ser”, afirma André Ribeirinho Marques, que acrescenta que o foco deve ser tratar as causas identificáveis no doente, como a depressão, distúrbios hormonais ou problemas cardiovasculares. “A terapêutica mais adequada e eficaz para a disfunção erétil primária combina uma abordagem psicoterapêutica, dirigida à ansiedade e crenças distorcidas relativamente ao normal funcionamento sexual, com tratamento farmacológico”, esclarece.
Apesar de ser um problema comum, “que atinge uma grande parte dos homens”, existe um estigma muito grande em falar-se dele, o que, de acordo com o sexólgo, perpetua “a ausência de procura de ajuda”. “Na génese desta questão estão, em grande parte, crenças erróneas do homem relativamente à sua “performance” sexual”, refere.
Isto porque a grande maioria dos homens com disfunção erétil acredita que a resposta sexual é espontânea e automática, dando à sua ereção na relação sexual um papel muito importante. Da mesma forma, estes homens associam “dificuldades transitórias em manter uma ereção” a ideias de falhanço e fraqueza”, focando-se “mais no seu desempenho sexual do que na satisfação sexual global de uma relação”, diz o especialista.
“Todas estas distorções, em muito perpetuadas pela sociedade e fraca educação sexual, precisam ser desmitificadas e desconstruídas, tendo um papel fulcral na prevenção e abordagem inicial dos problemas sexuais masculinos”, remata.
O médico acrescenta ainda que “nem todos os tratamentos psicofarmacológicos da depressão” são positivos para o tratamento da disfunção sexual, sendo que muitos podem agravá-la, alerta. “Importa, portanto, ao médico estar atento às queixas e estar cientificamente atualizado, para prescrever tratamentos antidepressivos adequados ao descontentamento manifestado pelo doente e sem impacto negativo na sua função sexual”, afirma o especialista.