Dois terços dos efeitos colaterais mais comuns que as pessoas sentem depois de serem inoculadas com a vacina contra a Covid-19 – dores de cabeça, fadiga de curto prazo e dor no braço, por exemplo – podem ser resultado de um efeito placebo, mas de uma “versão negativa” deste efeito, que investigadores de um novo estudo realizado nos EUA denominaram como “nocebo”. De acordo com os investigadores, a ansiedade pode desencadear este “efeito nocebo” com a sintomatologia mais comum.
A equipa analisou dados de 12 ensaios clínicos de vacinas contra a Covid-19, sendo que 22578 pessoas receberam um placebo e 22802 a vacina, e deu conta de que este “efeito nocebo” foi, ao todo, responsável por cerca de 76% de todas as reações adversas mais comuns depois da toma da primeira dose. Relativamente à segunda dose, a percentagem desceu para pouco mais de 50% após essa inoculação. Este estudo não teve em conta, contudo, a análise de efeitos colaterais graves e raros, como coágulos sanguíneos ou problemas cardíacos.
Os investigadores do estudo, publicado na revista Jama Network Open, explicam que os voluntários dos ensaios que tomaram uma vacina placebo foram injetados com uma solução salina inativa e que, desses grupos, mais de 35% das pessoas tiveram efeitos colaterais como dor de cabeça e fadiga, e 16% relataram dor no braço ou vermelhidão ou inchaço no local da injeção, por exemplo, após a primeira toma.
Já depois da segunda dose, as reações adversas entre os que receberam o placebo caíram para 32% em sintomas pelo corpo, com 12% a relatar alguns efeitos locais. Os voluntários que receberam a vacina relataram ter sentido mais efeitos colaterais: 61% tiveram reações pelo corpo e 73% referiram ter sentido reações adversas locais.
A equipa concluiu que cerca de dois terços dos efeitos colaterais comuns relatados são provocados, precisamente, pelo efeito “nocebo”, com particular destaque para as dores de cabeça e fadiga, que muitos folhetos com informação sobre as vacinas contra a Covid-19 caraterizam como as reações adversas mais comuns após uma inoculação. E embora ainda não esteja confirmado, os especialistas acreditam que a maior taxa de efeitos negativos nos grupos que tomaram a primeira dose da vacina pode ter levado os participantes a prever que também os teriam quando fossem inoculados com a segunda.
Apesar disso, ou seja, de as informações dadas às pessoas poderem fazer com que elas atribuam de forma errada sintomas comuns à vacina ou as deixem demasiado alertas sobre a forma como se estão a sentir, os investigadores defendem que deve haver mais informação sobre os efeitos secundários e não menos.
Ted Kaptchuk, professor na Harvard medical school e autor principal do estudo, referiu, citado pelo The Guardian, que “dizer aos doentes que a vacina que estão a tomar tem efeitos colaterais semelhantes aos tratamentos com placebo para a doença em ensaios controlados, na verdade, reduz a ansiedade“, acrescentando que, contudo, são necessárias “mais pesquisas.” “Honestidade é o caminho a seguir”, remata.