Contra factos não há argumentos, costuma dizer-se. Os números apresentados por Baltazar Nunes, especialista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), na reunião de peritos no Infarmed, são muito claros. Sem vacinas, as pessoas com idades entre 65 e 79 anos teriam uma mortalidade por Covid-19 que ascenderia a 119 casos por 100 mil habitantes, entre agosto e outubro deste ano. Estando a esmagadora maioria vacinados, a mortalidade ficou-se nos 13 casos por 100 mil habitantes.
Subindo nas idades e considerando os idosos com mais de 80 anos, teriam morrido 217 pessoas por 100 mil habitantes sem vacinas. Com estas – e ainda que a média de idades atual dos óbitos se situe nos 83 anos – a mortalidade é de 72/100 mil.
“À medida que a cobertura vacinal aumenta, a incidência de novos casos diminui. Esta relação é ainda mais clara se olharmos para a mortalidade. Maior cobertura vacinal corresponde a uma menor mortalidade”, afirma Baltazar Nunes.
Apesar de, neste período, o índica de transmissibilidade ser mais alto do que há um ano, a taxa de mortalidade não tem comparação. As vacinas evitaram 3 065 mortes e quase 15 mil casos de infeção pelo SARS-CoV-2. Recorde-se que a vacinação contra a Covid-19 é altamente eficaz a prevenir doença grave e hospitalização, mas bem menos eficaz a prevenir a infeção. Ainda assim, uma eficácia de 50% a prevenir infeção é melhor do que nada.
Na reunião de peritos do Infarmed, Baltazar Nunes deixou alguns avisos. O pico de maior ocupação de camas em cuidados intensivos deverá acontacer entre final de janeiro e início de fevereiro. Para não atingirmos o limiar de camas ocupadas (255 em cuidados intensivos, o nível de alerta que afeta o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde) temos de vacinar praticamente todos os elegíveis para a dose de reforço até finais de dezembro.
É que, além da Covid-19, os meses de janeiro e fevereiro são já de grande pressão para o SNS por via das habituais doenças respiratórias deste período. Este é o cenário com que o Governo tem de trabalhar para definir as eventuais medidas de contenção.
Há um ano, havia confinamentos ao fim-de-semana e a taxa de infeção situava-se nos 700 casos por 100 mil habitantes. Hoje em dia, a linha dos 240 casos por 100 mil habitantes deverá ser atingida em menos de duas semanas e, se mantivermos este nível de crescimento, ultrapassamos a linha dos 480 num mês ou dois. Em certos dias, nalgumas regiões, o Rt já atinge os 1.2. A transmissibilidade está a duplicar a cada 15 dias e a faixa etária mais afetada é a das crianças até 9 anos.