Após um mês inteiro com o índice de transmissibilidade (Rt) acima de 1 e de uma semana pautada por mais de mil novas infeções, quase todos os dias, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes não tem dúvidas que “já estamos em crescimento exponencial e podemos atingir uma média diária de dois mil casos em dezembro”.
Quinta vaga da pandemia? Podemos chamar-lhe assim, se quisermos, afirma o especialista que, no entanto, defende que esta será uma vaga pequena, “ou assim o espero”. Se a situação aumentará ou não, “tudo depende do comportamento das pessoas” e da capacidade do Governo assegurar, “a tempo e horas”, as terceiras doses de reforço da vacina contra a Covid-19.
Por agora, Manuel Carmo Gomes refere que, ao contrário do que aconteceu em setembro e outubro, o número de novos casos está a aumentar em todas as faixas etárias, sem exceção.
Num artigo que o epidemiologista publicou no site da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, juntamente com o matemático Carlos Antunes, na segunda feira, pode-se ainda verificar que as idades onde o risco de infeção tem sido mais elevado situam-se entre os 18 e os 25 anos, seguidos de crianças com menos de 10 anos e de jovens adultos entre os 25 e os 40 anos de idade.
O mesmo artigo revela também que, apesar de representarem apenas 15% das novas infeções, são ainda as pessoas com mais de 70 anos aquelas que representam a maior percentagem de internamentos em enfermaria (70%) e óbitos (91%).
Numa altura em que a maioria da população está vacinada, a maior parte dos infetados tem o esquema vacinal completo e Carmo Gomes relembra que a vacina protege apenas 70% a 80% contra infeção, “que até pode acabar por ser assintomática”, além de ir perdendo a eficácia nos cinco a seis meses após ter sido dada.
É absolutamente necessário acelerar o reforço da terceira dose, para evitar que esta onda atire muita gente para os hospitais
manuel carmo gomes – epidemiologista
Este decaimento na proteção “é mais evidente nos idosos”, o que evidencia a urgência em reforçar, com uma terceira dose de vacina, esta faixa da população. “É absolutamente necessário acelerar o reforço da terceira dose, para evitar que esta onda atire muita gente para os hospitais”, alerta o epidemiologista.
Não só a Covid, mas também a gripe e outras infeções respiratórias poderão causar alguma pressão sobre os hospitais este inverno, sobretudo na urgência hospitalar. “As pessoas vão à urgência por tudo e por nada. Com o aumento do número de casos, a chegada do inverno e as infeções respiratórias desta altura é natural que haja uma maior afluência na urgência e isso pode causar alguma pressão nos serviços”, que, no entanto, segundo o epidemiologista, acabará por não se refletir nos internamentos, “porque a maioria das pessoas é mandada para casa”.
Apesar de admitir que não sabe bem como é que aumento do número de casos irá parar, Manuel Carmo Gomes não tem dúvidas que o uso de máscaras em espaços fechados, este inverno, poderá ser muito importante para atrasarmos tanto a propagação de Covid como de infeções respiratórias. “A atividade gripal está agora praticamente no zero, mas ainda é cedo para dizermos que não vai haver gripe este ano”, alerta o especialista.
A atividade gripal está agora praticamente no zero, mas ainda é cedo para dizermos que não vai haver gripe este ano
manuel carmo gomes – epidemiologista