A cargo da Uuniversidade de East Anglia, no Reino Unido, o “Ensaio Apollo” começará a recrutar voluntários em dezembro. Pretende-se saber se a vitamina A, usada em gotas nasais, poderá ajudar as pessoas que perderam o sentido de olfato (ou experienciaram alterações olfativas) após a infeção pelo SARS-CoV-2 a recuperem este sentido.
A anosmia é um dos sintomas mais comuns de Covid-19 e, frequentemente, um dos primeiros a surgir. Mas outros vírus, como os que causam a gripe, por exemplo, podem também causar a perda ou distorções no olfato. Embora a maioria das pessoas o recupere algumas semanas depois da infeção, algumas ficam com sequelas durante muito tempo.
O “Ensaio Apollo” tem por base um estudo anterior, na Alemanha, que mostrou os efeitos positivos da vitamina A na reparação de tecidos. Os cientistas esperam que, quando aplicadas nasalmente, as gotas de vitamina A consigam reparar o tecido das fossas nasais, danificado pelo vírus. Para avaliar o efeito, alguns voluntários vão receber o tratamento enquanto os outros receberão um placebo. Todos terão de tentar cheirar odores fortes como o de ovos podres e rosas.
Os cientistas “esperam que o estudo possa um dia melhorar as vidas de milhões de pessoas em todo o mundo que sofrem de perda olfativa, devolvendo-lhes o seu quinto sentido”.
Carl Philpott, investigador na Escola Médica de Norwich, da Universidade de East Anglia, afirma: “Queremos descobrir se há um aumento no tamanho e atividade das vias ligadas ao olfato, que ficaram danificadas, nos cérebros dos pacientes, quando são tratados com as gotas nasais de vitamina A.”
“Vamos estar atentos a alterações no tamanho do bulbo olfatório – uma área acima do nariz onde os nervos olfativos se juntam para se ligarem ao cérebro. Também vamos procurar atividade em outras áreas do cérebro ligadas ao reconhecimento de cheiros”, continua.
Porque perdemos o olfato?
Cerca de 20% das pessoas infetadas com Covid-19 sofrem perdas olfativas a longo prazo – isto porque, durante a infeção, o vírus penetra no bulbo olfatório, a parte do cérebro responsável pelo reconhecimento dos cheiros.
Apesar de a maioria das pessoas recuperar o seu olfato, algumas podem sofrer de anosmia na sequência da infeção – a perda do olfato por completo – ou ainda parosmia, que distorce o sentido do olfato e pode interferir seriamente na capacidade que temos de saborear os alimentos.
Uma delas é Lina Analdi, uma jovem londrina de 29 anos que desenvolveu parosmia na sequência de uma infeção por Covid-19 – o cheiro da água da torneira tornou-se insuportável, e os ovos – um dos alimentos preferidos de Lina – passaram a cheirar-lhe a borracha queimada. “Acabamos por tomar o nosso olfato por garantido”, disse à BBC. “Perdê-lo foi devastador. Afetou a minha alimentação dramaticamente. Havia imensos alimentos que simplesmente não aguentava comer. Foi muito perturbador.”
Outros métodos já têm sido usados na tentativa de restaurar o olfato após infeções virais – um deles é o uso de doses reduzidas de esteroides. No entanto, este método já foi criticado por profissionais devido aos riscos que comporta, incluindo “retenção de fluidos, pressão arterial elevada e problemas com mudanças de humor e comportamento” e à “pouca evidência” de que tenha algum resultado, de acordo com Carl Philpott.
Um outro método que tem sido mais consensual é o “treino olfativo”. Este treino envolve os pacientes cheirarem pelo menos quatro odores fortes, duas vezes por dia, que podem ser tanto agradáveis como desagradáveis. Segundo Carl Philpott, este método “pretende ajudar a recuperação com base na neuroplasticidade – a capacidade do nosso cérebro de se reorganizar, para recuperar de uma lesão ou uma alteração”.