Uma nova combinação de medicamentos mostrou obter resultados muito significativos em mulheres que sofrem de cancro do ovário. Os especialistas acreditam que o medicamento é “altamente eficaz” na redução de tumores, mesmo em estágios mais avançados e que raramente respondem à quimioterapia ou terapia hormonal.
A fase 1 do estudo, liderado pela equipa do Institute of Cancer Research (ICR) em Londres e da Royal Marsden NHS Foundation Trust, testou como funciona a combinação dos medicamentos VS-6766 e defactinibe em pacientes com cancro de ovário seroso de baixo grau. A agência americana Food and Drug Administration (FDA) já concedeu ao tratamento a designação de “Breakthrough Therapy”, ou “terapia inovadora”, um processo que visa acelerar o desenvolvimento e a revisão de medicamentos que se destinam a tratar uma doença séria e cujas evidências clínicas iniciais mostram uma melhoria substancial em relação a medicamentos já disponíveis.
“O cancro do ovário seroso de baixo grau é um cancro raro e de crescimento lento que não responde bem à quimioterapia ou terapia hormonal e afeta desproporcionalmente mulheres mais jovens”, explicaram os especialistas, em comunicado.
Os resultados indicaram que 11 (46%) das 24 pacientes avaliadas viram os tumores reduzir significativamente em resposta ao tratamento, que funciona como um bloqueio aos sinais que as células cancerígenas recebem para indicar que precisam de crescer.
Os resultados foram ainda melhores em pacientes com uma mutação específica, com 64% dos tumores causados por mutações no gene KRAS a reduzir após o tratamento. Os participantes do estudo tinham idades entre os 31 e 75 anos e viveram em média 23 meses antes de o cancro progredir após o tratamento.
Através da identificação do perfil dos tumores, pode ser possível identificar que pacientes têm maior probabilidade de beneficiar com o novo tratamento.
“Superar a capacidade do cancro desenvolver resistência ao tratamento é um grande desafio para a pesquisa”, disse Kristian Helin, chefe executivo do ICR. “Este estudo trouxe uma compreensão profunda de como o cancro alimenta o seu crescimento e desenvolve resistência a um tratamento altamente direcionado para pacientes que atualmente têm poucas opções de tratamento. Os cientistas têm trabalhado, há décadas, para desenvolver tratamentos que possam atingir eficazmente os cancros causados pelo KRAS”.
De acordo com Susana Banerjee, também do ICR e oncologista médica na unidade de ginecologia do Royal Marsden, o tratamento combinado funcionou mesmo em pacientes que já tinham recebido um inibidor MEK – algo que pode provocar uma redução dos tumores, mas tende a parar de funcionar à medida que os tumores desenvolvem resistência ao tratamento – antes do estudo e, se os resultados forem replicados em estudos maiores, pode significar um avanço significativo no tratamento.
Em Portugal, há cerca de 600 novos casos de cancro do ovário por ano, com uma taxa de mortalidade que ronda os 70%, de acordo com um estudo da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Os especialistas envolvidos no estudo disseram que os resultados “fantásticos” dos primeiros testes ao novo medicamento, apresentado no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, sugerem que o tratamento era altamente eficaz e já está em andamento a segunda fase de testes.