Uma nova investigação, que ainda carece de revisão pelos pares, realizada por concluiu que as crianças que nasceram durante a pandemia de Covid-19 têm um desempenho cognitivo inferior às que nasceram antes, com resultados de testes realizados que revelam níveis de Q.I. mais baixos. De acordo com a equipa, nos dez anos anteriores à pandemia, o valor médio de Q.I. encontrado em testes feitos a crianças entre os três meses e os três anos era cerca de 100. Esse número caiu para 78 nos testes realizados aos bebés que nasceram nos últimos dois anos.
Porque é que isso está a acontecer? Os investigadores da Brown University, em Providence, Rhode Island, EUA, atribuem grande parte da culpa à falta de estímulos dados aos mais novos durante a pandemia, tanto dentro como fora de casa, que tem feito com que o seu desenvolvimento cognitivo fique mais limitado. “Os pais estão stressados e esgotados e a interação que a criança normalmente teria diminuiu substancialmente”, explica Sean Deoni, professor na Brown University e principal autor do estudo, citado pelo The Guardian.
Já em abril do ano passado, em entrevista à VISÃO, o psicólogo Eduardo Sá tinha referido que as exigências aos pais, que têm de conciliar o trabalho com a educação aos filhos, “fica ao nível do absurdo, não é humanamente possível”, acrescentando que “os níveis de stresse são muito maiores do que estar numa fila de trânsito ou a aturar um chefe chato”.
A equipa incluiu 672 crianças de Rhode Island no estudo, todas nascidas no tempo devido e sem nenhum défice no seu desenvolvimento, sendo que 188 delas nasceram depois de julho do ano passado, 176 entre janeiro de 2019 e março de 2020 e 308 antes de janeiro de 2019. Os testes reveleram, além de uma discrepância significativa entre os valores de Q.I. encontrados em crianças antes e depois da pandemia, que as crianças de origem socioeconómica mais baixa tiveram resultados mais baixos também.
Ainda não é possível medir o real impacto destes resultados a longo prazo, principalmente em zonas do mundo mais pobres, mas sabe-se que os primeiros anos de vida das crianças são essenciais para o seu desenvolvimento verbal, motor e cognitivo, no geral.