Entre as quase 300 vacinas em desenvolvimento para combater a Covid-19, 15 apresentam soluções intranasais, segundo os últimos dados da Organização Mundial de Saúde, atualizados esta terça-feira, 10. Aplicadas através de um simples spray nasal, estas vacinas, além de indolores e mais fáceis de conservar do que as injetáveis, poderão trazer uma mais-valia adicional no controlo da pandemia – a redução da transmissibilidade. São muitos os cientistas convictos de que, ao serem administradas diretamente na principal via de propagação do vírus, vão ser capazes de produzir uma resposta imunitária mais eficaz e, em cima disso, diminuir as possibilidades de contágio. Importa, por isso, perceber em que ponto de desenvolvimento se encontram algumas destas alternativas à vacinação convencional – sem esquecer que podem constituir, também, uma solução muito menos dispendiosa para fazer frente ao SARS-CoV-2.
Inglaterra
Investigadores da Universidade de Lancaster anunciaram esta semana que ensaios pré-clínicos realizados em hamsters não apenas demonstraram resultados promissores no combate à doença como indicaram um potencial de redução dos índices de transmissibilidade do vírus. Segundo o virologista Muhammad Munir, que liderou o estudo, ficou provado que “a indução de uma resposta imunitária local no ponto de entrada do Sars-Cov-2 tem o potencial de limitar não apenas a doença mas também – e talvez ainda mais importante – a transmissão do vírus de indivíduos infetados para não infetados”. É certo que esta possível solução se encontra numa fase ainda muito preliminar do seu desenvolvimento, mas nenhuma das vacinas atualmente no mercado apresenta a segunda característica.
A Universidade de Oxford está um passo mais à frente. A parceria com a sueca AstraZeneca mantém-se para aquela que pode ser considerada uma versão adaptada, para administração nasal, da vacina que já é sobejamente conhecida na sua forma injetável. Durante os próximos quatro meses, a aplicação intranasal será alvo de um primeiro ensaio clínico em humanos, em cerca de 50 voluntários.
Estados Unidos da América
Outra vacina intranasal que revelou resultados animadores em ratos e furões está a ser desenvolvida pelas universidades americanas da Geórgia e de Iowa. Uma única dose protegeu os animais de laboratório de infeções letais e bloqueou a transmissão do vírus, ao evitar a sua replicação nas vias respiratórias superiores e consequente progressão para os pulmões, por exemplo. Seguem-se os testes em humanos.
Mais ou menos a par na “corrida”, a empresa Meissa Vaccines terminou os testes pré-clínicos em primatas não humanos com resultados que evidenciaram “proteção equivalente” à das vacinas já comercializadas. “Acreditamos que a vacina intranasal da Meissa pode ajudar a livrarmo-nos das máscaras de vez, a voltar ao normal, e potencialmente imunizar milhões de pessoas que não têm acesso às vacinas já autorizadas, assim como as que vão precisar de reforços periodicamente”, declarou o diretor-geral, Martin Moore, em julho.
China
Em junho, a epidemiologista e virologista Chen Wei, da Academia Militar de Ciências Médicas chinesa, anunciou que as autoridades de saúde do país estavam já a apreciar os méritos de uma vacina intranasal para ser aprovada, de emergência, no combate à Covid-19. Ela própria lidera o projeto, em parceria com a empresa CanSino, com quem já havia desenvolvido a versão injetável da vacina Covidecia.
Segundo os resultados da fase 1 dos ensaios clínicos em humanos, publicados em julho no prestigiado jornal científico The Lancet, a eficácia da versão em spray é idêntica à da vacina convencional, ou seja, na ordem dos 90% para as formas graves da doença e dos 65% para sintomas moderados.
Austrália
A biotecnológica ENA Respiratory abriu em meados de julho as candidaturas ao primeiro ensaio clínico em humanos da sua vacina inalada, já testada com sucesso em laboratório. Nesta fase, o objetivo é verificar a segurança e a tolerância ao spray na população adulta com idades entre os 18 e os 55 anos, na cidade de Sydney.
Os estudos em laboratório, realizados pela agência pública de saúde em Inglaterra, mostraram uma “resposta imunitária rápida” na zona do nariz, com uma “redução de 96% da capacidade de replicação” do vírus da Covid-19, de acordo com a empresa australiana. A INNA-051, nome de batismo desta possível vacina, não só ofereceu proteção em relação à doença como “reduziu a possibilidade de transmissão na comunidade”, anunciou a ENA Respiratory.
Rússia
Uma versão intranasal da Sputnik V já foi testada em crianças dos 8 aos 12 anos e poderá ficar disponível já em meados de setembro. Alexander Gintsburg, que dirige o Instituto Gamaleya responsável pelo desenvolvimento da vacina russa, transmitiu recentemente a informação, acrescentando que não foram registados quaisquer efeitos adversos.
Índia
A companhia Bharat Biotech está a desenvolver uma vacina criada por cientistas dos Estados Unidos da América. Depois da fase 1 dos ensaios clínicos ter decorrido em solo americano, é vez de voluntários de várias cidades indianas disponibilizarem o nariz a esta alternativa de dose única. Os resultados preliminares, obtidos em laboratório, ofereceram boas perspetivas.
Tailândia
Até ao final do ano, vão começar os testes em humanos de dois projetos de vacinas inaladas, avançou esta quinta-feira, 11, a agência Reuters, citando fonte governamental. Os ensaios clínicos receberam luz verde do governo na sequência dos resultados positivos verificados em laboratório e, se tudo correr de feição do ponto de vista científico, a produção das primeiras vacinas está prevista para 2022.