“Na verdade, não faço ideia de como fiquei infetada com Covid-19, porque à minha volta não houve ninguém que tenha ficado. Nem a minha família, nem os meus colegas de trabalho, felizmente. Só o meu namorado”, começa por contar à VISÃO Catarina Freixeda, de 26 anos. A jovem, que ficou infetada com Covid-19 há cerca de duas semanas, teve alguns sintomas leves, dores nas pernas, moleza e sensação de febre. No mesmo dia, ficou em isolamento por indicações da Saúde 24.
O namorado, Igor, com quem vive em Lisboa, só começou a ter sintomas, ainda mais subtis que os de Catarina, três ou quatro dias depois. “Tinha feito um teste rápido no dia em que liguei para a Saúde 24 e testou negativo, mas infelizmente acabou mesmo por ficar infetado”, diz a jovem. Quando Catarina recebeu a declaração de fim de isolamento já estava totalmente bem, mas a febre de Igor não passava. “Perguntei se podia levá-lo ao hospital quando eu ainda estava em isolamento e disseram-me que sim, porque já estava em condições de conduzir. E fomos”, conta, referindo que o jovem foi mandado para casa, com indicações de continuar a medicação que estava a fazer.
Mas não resultou: Igor começou a perder o apetite e as forças e voltou ao hospital. Pelas análises ao sangue e o raio-X realizados, percebeu-se que os pulmões não estavam bem e os valores de oxigénio estavam muito baixos, e o jovem foi internado na última segunda-feira. “Ele mantém o contacto comigo, felizmente conseguiram controlar-lhe a febre. Mas ainda precisa de oxigénio”, acrescenta Catarina, referindo que, apesar de estável, e de não estar nos cuidados intensivos, o namorado continua “mal”.
“Não estava à espera do que aconteceu, porque sou daquelas pessoas que está sempre em alerta”, explica Catarina”. “Ando sempre com álcool atrás e uso máscara em todos os locais públicos, independentemente de serem ou não ao ar livre. Nem eu nem ele temos doenças e temos evitado estar com outras pessoas que não são família”, acrescenta.
Apesar de ter sido Catarina a infetar o namorado, que diz ser saudável, não fumar e não beber, a jovem não se sente culpada. “Não me sinto culpada porque sempre tivemos todos os cuidados. Ele ficou infetado porque o facto de morarmos juntos e partilharmos as mesmas coisas é por si só um fator de risco”, refere.
O número de casos de Covid-19 tem novamente aumentado em Portugal. Na última terça-feira, foram contabilizadas mais seis mortes e 1020 infetados, com quase dois terços dos novos casos a serem registados em Lisboa e Vale do Tejo. Espera-se, contudo, que no próximo mês haja diariamente 2 mil novos casos. O número de internados em cuidados intensivos é, também, mais de cem.
“Acho que as pessoas estão cansadas e com muito menos medo”, diz Catarina. “Como existe muita gente assintomática, acham que não se vai passar nada quando chegar a vez delas.”