Portugal é o 13º país da União Europeia com maior taxa de incidência de Covid-19 por 100 mil habitantes. Os dados, revelados esta quinta feira, 17 de junho, pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC), mostram que o país atingiu uma média de 87 casos por cada 100 mil habitantes nos últimos 14 dias, número que não era ultrapassado desde a semana entre oito e 14 de março (92 casos por 100 mil habitantes).
A subida tem-se verificado desde o início de maio, após o País ter conseguido a menor taxa de incidência a 14 dias, passando os valores, nas últimas quatro semanas, de 48 casos por 100 mil habitantes para 56, 65 e 74, antes de atingir os atuais 87.
Esta subida, como refere o especialista em Saúde Pública da Universidade Católica Portuguesa, Henrique Lopes, não é de agora. “Começou a dar os seus primeiros sinais a partir de 7 ou 8 de maio e depois aumentou a partir de dia 12, numa linha sustentada e isso exprime-se através de um aumento que não é exponencial, mas crescente”.
De facto, analisando os restantes 27 Estados Membros, é possível verificar que Portugal atinge o 13º lugar na tabela, mais do que por um aumento exponencial da taxa de incidência a 14 dias, pela diminuição da mesma em alguns países que apresentavam, até há quatro semanas, valores superiores aos nacionais.
É o caso da Polónia, que há quatro semanas tinha 81 casos por 100 mil habitantes e tem agora 14, da Roménia que passou de 46 para 11, da Hungria que desceu de 101 para 26 ou da Áustria que passou de 115 para 45.
Em lugar de destaque encontra-se Malta, atualmente o país da União Europeia com a taxa de incidência por Covid-19 mais baixa, com cerca de nove casos por cem mil habitantes, valor que mantém sensivelmente há cinco semanas consecutivas. Seguem-se a Roménia com 11 casos, a Polónia com 14, a Finlândia com 25, a Hungria com 26, a Bulgária com 30, a República Checa com 36, a Alemanha com 41, a Áustria com 45, Itália com 48 casos e a Eslováquia 53.
Apesar de não ser exponencial, o crescimento da taxa de incidência a 14 dias em Portugal contradiz a tendência decrescente registada na União Europeia. Se, até à semana passada a incidência global dos 27 estados membros era superior à nacional, esta semana o valor registado é de 71 casos por 100 mil habitantes, inferior aos 87 portugueses.
Portugal é dos países da UE com menos mortes por Covid-19
Henrique Lopes defende que o crescimento sustentado da incidência no nosso país deve-se ao facto de as populações que tinham sido muito afetadas nas primeiras vagas de Covid encontrarem-se agora vacinadas. De facto, a faixa etária dos 15 aos 24 anos é, desde o final de abril, aquela que apresenta uma maior incidência de casos de Covid-19 por cada 100 mil habitantes.
Segundo os dados do ECDC, atualmente em Portugal, nesta faixa etária existem 151 casos por cada 100 mil habitantes, seguidos de 122 casos na faixa entre os 25 e os 49 anos, 99 nas pessoas com menos de 15 anos, 63 nos adultos entre 50 e 64 anos, 28 nos que têm entre 65 e 79 e, finalmente, apenas 21 por cada 100 mil pessoas com mais de 80 anos.
Henrique Lopes aponta ainda a vacina como a justificação para, “apesar de termos cerca de mil casos por dia, a mortalidade ser muito baixa”. Uma rápida análise aos dados publicados na quinta feira pelo ECDC, referentes aos países da União Europeia, revela, efetivamente, que o nosso país se encontra entre aqueles onde se registam menos mortes por Covid-19 (2.14 por milhão de habitantes), superado apenas pela Dinamarca, Noruega, Finlândia, Islândia, Malta e Irlanda, sobre a qual, no entanto, o ECDC diz, numa nota, que os dados não estão atualizados há várias semanas.
Redução na testagem
A par do aumento da incidência a 14 dias, no nosso país houve ainda uma diminuição na quantidade de testes realizados, que se encontra, atualmente, nos 2731 testes por 100 mil habitantes, com uma taxa de positividade de 1,8%, valor bastante inferior, ainda assim, aos 4% recomendados pelo ECDC.
De qualquer forma, perante valores como os da Áustria, que em 63 471 testes realizados por cada 100 mil habitantes, apresenta uma taxa de positividade de apenas 0,03%, os valores portugueses deixam a desejar.
A diminuição da testagem pode ser preocupante, pois, como sublinha Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e membro da equipa que desde o início da pandemia faz a modelação da evolução da doença, esta é uma das melhores formas de evitar que “a pandemia ande à solta como está a acontecer em Lisboa e Vale do Tejo”.
Testar em massa permite identificar os casos positivos mais cedo e “diminuir o período em que a pessoa está contagiosa e a contagiar outras pessoas”, explica o especialista, defendendo que, “para reduzir isso, é preciso reforçar o rastreio epidemiológico e a testagem”.