Na última quinta-feira, Kate O’Brien, especialista em vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS), referiu, em conferência de imprensa, que a vacinação das crianças contra a Covid-19 não é, para a organização, uma prioridade, tendo em conta o suprimento global muito limitado de doses.
Alguns especialistas parecem, contudo, discordar. Apesar de, em crianças e jovens, os riscos de desenvolver sintomas graves ou morte por Covid-19 sejam menores, as pessoas nestas faixas etárias também podem contrair o vírus, assim como transmiti-lo. À CNN, a especialista em doenças infecciosas infantis Amy Edwards, de Cleveland, em Ohio, EUA, explicou que, se todos os adultos fossem vacinados, as crianças não teriam de receber a vacina, uma vez que ia haver uma “pequena comunidade” de pessoas que não estavam inoculadas. Contudo, como se sabe “que uma grande parte dos adultos não vai ser vacinada, isso deixa algumas crianças vulneráveis, e é por isso que elas precisam da vacina”, afirmou.
À mesma estação, uma outra especialista, Claire Boogaard, pediatra no Children’s National Hospital, em Washington, EUA, referiu que é necessário vacinar as crianças para se conseguir “alcançar a imunidade coletiva”, desde que a vacinação seja “comprovadamente segura” para esta faixa etária.
Alguns especialistas têm defendido, de facto, que a vacinação dos mais novos deve ser parte integrante da proteção da comunidade em geral contra a Covid-19. No início do último mês, o Canadá tornou-se o primeiro país do mundo a aprovar o uso da vacina da farmacêutica da Pfizer/BioNTech em adolescentes com mais de 12 anos, depois de a farmacêutica ter informado, no fim de março, que a vacina tinha mostrado uma eficácia de 100% em crianças entre os 12 e os 15 anos.
No mesmo mês, a Food and Drug Administration (FDA), que regula o setor farmacêutico nos EUA, anunciou que as crianças nesta faixa etária podiam começar a receber a mesma vacina e, na última semana, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) deu luz verde à administração desta vacina nestas mesmas idades, uma decisão que cabe, agora, a cada Estado-membro da União Europeia. Esta sexta-feira, o Reino Unido aprovou esta vacina em crianças entre os 12 e os 15 anos.
Apesar de ainda não ter sido anunciada uma decisão em Portugal, o Infarmed garante que estão a decorrer “vários ensaios clínicos com as vacinas contra a Covid-19 já autorizadas, com o envolvimento de crianças e adolescentes”.
Em abril, a Johnson & Johnson iniciou testes com a sua vacina em jovens dos 12 aos 17 anos e a Pfizer e Moderna começaram a fazer testes em crianças dos 6 meses aos 11 anos, com esta última a referir que prevê pedir já este mês à FDA que aprove também a sua vacina em adolescentes entre os 12 e os 17 anos.