Que a incidência de novos casos de Covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo tem vindo a aumentar não é segredo para ninguém. Se alguns especialistas são mais perentórios em associar o fenómeno aos festejos do Sporting, que reuniram milhares de pessoas, muitas delas sem máscara, a 11 de maio na capital, outros, como o especialista em Saúde Pública Henrique Lopes, referem que também o processo de desconfinamento e a abertura ao turismo podem estar a contribuir para o aumento de casos.
Uma das medidas do processo de desconfinamento é precisamente a autorização, em vigor desde dia 1 de maio, para realizar casamentos com 50% da lotação dos espaços onde ocorre o evento. Com a estação tipicamente reservada a este tipo de evento a iniciar-se este mês, talvez não tenha sido surpresa para muitos o surgimento do primeiro grande surto ativo de Covid-19 deste ano, associado a um casamento.
Divulgado pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), este sábado, o surto de 26 casos positivos, em 130 convidados, caracterizava-se pela maioria dos casos positivos terem sido “contactos de alto risco”.
É precisamente este o ponto, segundo Carlos Antunes, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que está a acompanhar a evolução epidemiológica da Covid-19 em Portugal. Apesar de considerar que todos os eventos que tenham menos de mil pessoas concentradas têm uma probabilidade baixa “de ter lá um infetado” e dar origem a surtos, o especialista considera que, não só a dimensão, mas o tipo de contactos conta para aumentar o risco.
Ora, se o grande problema dos festejos do título, foi, nas palavras de Carlos Antunes, “a grande concentração e um comportamento um pouco irresponsável e contrário às medidas de proteção individual”, no caso do casamentos, o especialista considera que não nos podemos deixar enganar pela menor concentração de pessoas.
Este tipo de eventos surge assim como a exceção à regra que leva o matemático a afirmar que, à partida, apenas os eventos com mais de 10 mil pessoas podem ser potencialmente arriscados. Nos casamentos “as pessoas estão em contacto quase todo o dia”, há “maior proximidade e, se calhar, contacto físico mesmo”, é um ambiente que “motiva a dança” e que pode ser mais fechado.
Comparando ainda o que se passou na rotunda do Marquês com outros grandes eventos, como a Festa do Avante ou as celebrações em Fátima, Carlos Antunes recorda que nos últimos dois existiam regras muito bem definidas e distância de segurança assegurada.