A Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE) lamenta aquilo que chama de “tratamento de exceção” concedido ao futebol por parte das autoridades portuguesas.
“Na sequência das imagens que o país assistiu como consequência da conquista do título de campeão nacional, em que foram permitidas aglomerações a milhares de adeptos e muitos sem estarem devidamente protegidos contra os perigos da pandemia, a Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos vem por este meio expressar a sua profunda indignação face aos dois pesos e duas medidas aplicados pelo Governo no momento de tomar decisões em relação à indústria do futebol”, lê-se no comunicado que a APSTE fez chegar às redações.
A associação lembra que os setores da cultura e dos eventos estão praticamente impedidos de trabalhar desde março de 2020, encontrando-se atualmente a realizar testes-piloto “sob rigoroso escrutínio”, devido às limitações impostas pelo Governo por causa da Covid-19.
“É inacreditável a permissividade concedida a alguns, um pouco por todas as regiões do país, quando andamos há mais de um ano sem poder desenvolver a nossa atividade sob o pretexto de que os concertos, peças de teatro, festivais, e outros tantos eventos, são um risco para a saúde pública. Então como classificaria o Governo àquele espetáculo a que tivemos oportunidade de assistir, sobretudo nas principais artérias de Lisboa, através de todas as televisões?”, questiona Pedro Magalhães, presidente da APSTE.
“Convém não esquecer que existem pessoas neste país sem trabalho, que perderam negócios de toda uma vida, inclusivamente a passar fome, exatamente devido às condicionantes trazidas pela pandemia e que tantas vezes serviram de álibi para as autoridades impedirem o normal desenvolvimento das atividades”, acrescenta o mesmo responsável.
“O setor da cultura e dos eventos tem sido um dos mais afetados por este tipo de decisões e continuamos a atravessar uma espécie de período probatório em que, para podermos trabalhar, somos constantemente alvo de testes-piloto extremamente rigorosos. Já o futebol, sobretudo depois de vermos as imagens dos últimos dias, parece viver numa realidade paralela, em que tudo é permitido, sem prejuízo do que daí possa advir”, conclui o presidente desta associação fundada em junho de 2020, no seguimento da criação do Movimento Cancelado que resultou na chamada de atenção para a falta de representatividade do sector perante as entidades competentes.
Recorde-se que a Juventude Leonina usou o direito à manifestação para montar uma fan zone junto ao estádio de Alvalade, com um camião-palco, um ecrã gigante e DJ.
Em comunicado, a claque leonina já veio explicar que “as diversas entidades responsáveis” aceitaram que o evento se realizasse, pedindo apenas que “as regras sanitárias fossem cumpridas”. E afirma que divulgaram essas recomendações nas redes sociais e no decorrer do evento.
À TVI24, o vice-presidente do Sindicato Nacional de Oficiais da Polícia, o comissário Bruno Pereira, afirmou que a PSP deu um parecer negativo à instalação da fan zone e propôs à Câmara Municipal de Lisboa “um plano alternativo” que envolvia o controlo de segurança dos adeptos não só no estádio como no Marquês de Pombal. A autarquia não respondeu.
O facto de o evento da claque leonina ter sido montado ao abrigo do direito de manifestação é, para o sindicato da polícia, “um bocadinho desajustado com o alcance do diploma”, sublinhou o mesmo comissário.