Calcula-se que 10% da população mundial, ainda que possa morrer de outra causa, irá desenvolver um aneurisma ao longo da vida. Quem o assegura é Bruno Lourenço Costa, neurocirurgião na Clínica PainCare, em Lisboa e no Porto, e especialista em Neurocirurgia vascular da base do crânio. Em 10 perguntas conheça as características, sintomas e tratamentos para esta ameaça, geralmente, silenciosa.
1. O que é um aneurisma cerebral?
Os aneurismas cerebrais são uma doença das grandes artérias do cérebro, que ocorre quando a pressão e a pulsação do sangue em circulação enfraquecem regiões específicas das paredes das artérias. “A artéria deixa de ser um tubo onde o sangue circula normalmente e a parede vai dilatando até formar uma espécie de uma bolha com paredes muito frágeis”, explica Bruno Lourenço Costa. Este ponto frágil da parede da artéria, alerta o médico, pode rebentar, dando origem a uma hemorragia cerebral ou AVC hemorrágico.
2. O que acontece no nosso corpo quando um aneurisma rebenta?
Quando um aneurisma rebenta e dá origem a um AVC hemorrágico, o sangue que está a circular sob pressão, dentro das artérias, é derramado para os espaços que existem em torno do cérebro ou mesmo para dentro do próprio cérebro, produzindo lesões neurológicas.
Bruno Lourenço Costa explica que se pode sentir uma dor de cabeça muito forte, pode-se entrar em coma imediato ou mesmo morrer. “Mais de metade dos doentes morre nos primeiros 30 dias”, revela o neurocirurgião, acrescentando que, dos que sobrevivem, “a maior parte fica com défice neurológico grave e irreversível e não volta a trabalhar”.
3. Um aneurisma pode rebentar mais do que uma vez?
Sim. Depois de rebentar uma vez, Bruno Lourenço Costa diz que existe um risco “altíssimo” de rebentar novamente.
4. Porque razão surgem os aneurismas?
Segundo Bruno Lourenço Costa, a grande maioria dos aneurismas cerebrais são esporádicos, ou seja, resultam de uma combinação complexa entre a genética e o estilo de vida. “Não é possível dizer que há um fator que causa diretamente o problema, mas há uma mistura de fatores que aumentam o risco de desenvolver um aneurisma durante a vida”.
5. Quais os principais fatores de risco?
Existem essencialmente dois tipos de fatores de risco: a genética e o estilo de vida. Quanto aos primeiros, Bruno Lourenço Costa assegura que são inalteráveis e que “quem tem um ou mais familiares diretos com aneurisma cerebral tem um risco superior (10%) de desenvolver um aneurisma”, da mesma forma que certos países apresentam uma maior incidência, nomeadamente, “a Finlândia na Europa e a China, a Coreia e o Japão na Ásia”.
Quanto ao estilo de vida, os principais fatores de risco são o tabaco, o consumo de álcool, a hipertensão, o colesterol elevado e a diabetes e, segundo o neurocirurgião, podem e devem ser alterados como forma de prevenção, “não só deste problema como de outras doenças que partilham os mesmos fatores de risco”.
6. As mulheres têm maior risco do que os homens?
Bruno Lourenço Costa revela que as mulheres têm 1,6 mais risco de desenvolver um aneurisma do que os homens, “o que não é pouco”. O neurocirurgião refere que, provavelmente, os fatores hormonais serão parte da explicação para tal acontecer, “mas não é uma explicação suficiente”.
7. A idade também pode ser um fator de risco?
Apesar de poderem ocorrer em qualquer idade, os aneurismas cerebrais são extremamente raros nas crianças e, a partir dos 30 anos, Bruno Lourenço Costa sublinha que a frequência vai aumentando.
8. Existem sinais de alerta aos quais estar atento?
O maior problema dos aneurismas cerebrais é serem silenciosos. Apanhá-los a tempo é uma bênção, segundo Bruno Lourenço Costa, pois, na maior parte dos casos, “a primeira e única manifestação é um AVC hemorrágico, que é sempre uma coisa muito grave”.
Além das pessoas que descobrem ter um aneurisma por acaso, ao fazerem exames à cabeça motivados por outras questões de saúde, há também quem tenha a sorte de conseguir um diagnóstico precoce por ter dado atenção aos poucos sintomas que existem.
“Os sinais de alarme são três: uma cefaleia sentinela, que é uma dor de cabeça violenta que começa rapidamente e torna-se insuportável, uma perda de visão súbita, apenas num olho ou em ambos, e um início súbito de um quadro em que a pessoa vê duas imagens, um olho mantém-se fechado e, quando se abre a pálpebra, o olho está desviado”, explica o especialista.
9. Se for apanhado a tempo, o aneurisma pode ser tratado?
Sim. Bruno Lourenço Costa refere que pode-se optar pela microcirurgia ou pela cirurgia endovascular, dependendo do doente e das características do aneurisma.
Na microcirurgia, é feita uma pequena abertura no crânio, o neurocirurgião separa o aneurisma das artérias que lhe estão em torno e fecha-o com um clip. “Nestes casos o aneurisma fica tratado de forma imediata e definitiva”, esclarece o médico.
Na cirurgia endovascular é inserido um tubo extremamente fino na artéria da virilha o qual é conduzido até ao aneurisma cerebral, por dentro das artérias. Depois, dentro da artéria é inserida uma rede (stent), que vai forrar a artéria, aumentando a sua resistência e impedindo que o sangue continue a chegar dentro da bolha. “Também se podem colocar umas molinhas, aí dentro do próprio aneurisma, fazendo com que o risco do aneurisma sangrar diminua”.
10. Quem deve ser rastreado?
Quem tem familiares em primeiro grau com um aneurisma cerebral ou pessoas com algumas doenças genéticas muito raras como o síndrome de Marfan, síndrome Ehlers-Danlos ou a doença policística renal, associadas aos aneurismas.