Os primatas gritam por medo ou raiva, já os humanos fazem-no também por dor e tristeza. Mas o que os distingue dos outros é que os gritos também podem ser utilizados para comunicar sentimentos positivos, como alegria e prazer extremos.
Um novo estudo, realizado pela Universidade de Oslo, Noruega, e publicado esta terça-feira no jornal PLOS Biology, quis perceber que tipo de gritos afetam mais os humanos e quais são os que mais rapida e facilmente provocam uma reação neles. Surpreendentemente, concluiu-se que são os gritos associados a momentos positivos que provocam uma resposta mais rápida, tal como os gritos de prazer.
Em comunicado, a autora principal da investigação, Sascha Frühholz, explicou que os humanos “partilham com outras espécies o potencial de sinalizar perigo ao gritar”, ou seja, primordialmente, o grito servia o propósito de comunicar uma situação de perigo imediato.
Contudo, explica a investigadora, apenas os humanos “gritam para comunicar emoções positivas como alegria e prazer extremos”, mas também surpresa, sendo os gritos deste tipo aqueles que mais facilmente são percebidos entre si. A partir de quatro experiências diferentes que a equipa realizou com grupos de pessoas, a equipa concluiu que os humanos processam melhor este tipo de gritos, mais associados a momentos positivos, do que gritos de medo, raiva e dor.
Além disso, existem gritos que provocam, eles próprios, sensações prazerosas, como acontece com algumas pessoas quando assistem a filmes de terror. Numa das experiências realizadas pelos investigadores, foram feitas ressonâncias magnéticas aos participantes, ao mesmo tempo que ouviam determinados gritos. As imagens mostraram que os cérebros reagiram mais rapidamente e com mais precisão a gritos que não comunicavam qualquer situação de alarme e a gritos de prazer e alegria extrema do que aos negativos.
Isto pode acontecer porque, socialmente, o ser humano está mais habituado a lidar com situações de alegria e surpresa e a ouvir expressões que comuniquem esses sentimentos. Portanto, passam a responder mais rapidamente a gritos associados a momentos positivos. Reagir a emoções positivas parece ter, ao longo do tempo, ganhado prioridade em relação às negativas devido aos contextos sociais mais complexos que o ser humano foi construindo, esclarece a equipa.
De acordo com Frühholz, estes resultados são “surpreendentes”, uma vez que os cientistas assumiam até então “que o sistema cognitivo dos primatas e humanos está especificamente ajustado para detetar sinais de perigo e ameaça no meio ambiente, como um mecanismo de sobrevivência” Embora isto seja verdade tanto em primatas como noutras espécies animais, “a comunicação por grito parece ter-se diversificado amplamente nos humanos, e isso representa um grande passo evolutivo”, explica a investigadora.