Sabe-se já que pessoas com sistemas imunológicos mais fracos podem “guardar” nos seus corpos vírus persistentes e transmiti-los durante um longo período de tempo. Agora, especialistas têm estudado evidências que indicam que pessoas imunocomprometidas podem ser “incubadoras” das novas estirpes do coronavírus que têm surgido e que se disseminam rapidamente.
Normalmente, as mutações do coronavírus surgem a um ritmo lento mas constante, aparecendo, mais ou menos, cerca de duas por mês. Mas a variante descoberta pela primeira vez no condado de Kent, Sudeste de Inglaterra, em setembro – a VOC 202012/01, ou linhagem B.1.1.7 – sofreu mais de 20 mutações (23, no total) do vírus identificado na China, no fim de 2019, um número bastante superior ao encontrado em outras estirpes, sendo que quase todas se desenvolveram de uma só vez.
Ao New York Times, Ravindra Gupta, virologista na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, diz que “a explicação mais provável” é que, em algum ponto, o vírus possa ter infetado alguém com um sistema imunológico mais fraco, permitindo a sua adaptação e evolução durante meses dentro do corpo dessa pessoa, antes de ser transmitido a outras.
Seguindo esta hipótese, seria importante, dizem os especialistas, vacinar o quanto antes as pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos, como os doentes oncológicos, por exemplo, porque, quanto mais rapidamente esse grupo for imunizado, menor será o risco de os seus corpos se transformarem em incubadoras para novas estirpes, garante Adam Lauring, virologista e infecciologista na Universidade do Michigan, EUA.
Esta tarefa, acrescenta, pode tornar-se complicada, uma vez que este grupo pode não desenvolver uma resposta imunológica ao vírus tão forte.
Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Oxford e publicado na revista Science, na última semana, concluiu que as mutações que criam variantes do coronavírus mais contagiosas, tal como a que foi identificada no Reino Unido, são extremamente raras. Mas, quando acontecem e são transmitidas, “então é temporada de caça”, referiu Katrina Lythgoe, bióloga na Universidade de Oxford e autora principal do estudo.
O vírus pode desenvolver essas mutações durante vários meses ou anos mas, numa pessoa que tenha o sistema imunológico enfraquecido, esse tempo pode ser mais curto. Um estudo publicado em dezembro do ano passado no New England Journal of Medicine, deu conta de um caso de evolução viral acelerada e infeção persistente num doente imunocomprometido, e que tinha ficado infetado com Covid-19.
Já em março deste ano, uma outra investigação chegou a resultados parecidos, concluindo que o vírus pode persistir durante mais de oito meses em pessoas com sistemas imunitários mais fracos, tempo suficiente para continuar a evoluir.
O termo imunocomprometido pode incluir doentes oncológicos, mas também diabéticos ou pessoas com artrites reumatoides e os especialistas ainda não chegaram a um acordo sobre quais destas condições é que podem facilitar o surgimento de novas estirpes do coronavírus.