As palavras de Michael Ryan, diretor executivo dos serviços de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS), e de Tedros Adhanom Ghebreyesus, o diretor geral daquela organização, não deixam grande margem para dúvidas: há poucas probabilidades de a pandemia de Covid-19 terminar até ao final do ano.
“É prematuro e irrealista”, sublinhou mesmo Ryan, na habitual conferência de imprensa da OMS sobre o estado da Covid-19 no mundo, que decorreu em Genebra, na Suíça, onde se localiza a sede da organização – e isto, apesar de, como reconheceu, os confinamentos e os planos de vacinação estarem a contribuir para se proteger os mais vulneráveis e para aliviar a pressão sobre os hospitais. Mas, como também fez saber a organização, há ainda pelo menos 100 nações que não conseguiram vacinar ninguém.
A piorar o cenário estão os mais recentes dados sobre a infeção a nível global, revelando que, pela primeira vez nas últimas sete semanas, esse número voltou a aumentar – e em quatro das seis regiões supervisionadas pela OMS: Américas, Europa, Sudeste Asiático e Mediterrâneo Ocidental. No mesmo patamar, mantêm-se apenas África e o Mediterrâneo Oriental.
“É dececionante, mas não surpreendente”, considerou, por seu lado, Tedros Adhanom Ghebreyesus, sublinhando que se está a trabalhar “para compreender melhor esta subida na transmissão” – mas reconhecendo já que tal parece dever-se “ao relaxamento das medidas de saúde pública e à circulação contínua de variantes”. E não se conteve a apontar o dedo à forma como decorre o plano de vacinação a nível mundial. “As vacinas ajudam a salvar vidas, mas se os países fazem depender disso todo o seu esforço disso estão a cometer um erro”.
No seu entender, ouviu-se ainda, no seu discurso, as medidas básicas de saúde pública continuam a ser a base da resposta. “Para as autoridades de saúde pública, isso significa testes, rastreio de contactos, isolamento e cuidados de qualidade. Para os indivíduos, significa manter o distanciamento físico, a higienização das mãos e máscaras”.
Sempre a insistir que “esta é uma crise global que requer uma resposta global consistente e coordenada”, o diretor-geral da OMS foi ainda muito crítico sobre a desigualdade verificada no acesso às vacinas. Saudando as primeiras inoculações que decorreram esta segunda-feira em África – mais precisamente, na Costa do Marfim e no Gana – considerou lamentável que só tenha acontecido “quase três meses depois de alguns dos países mais ricos terem iniciado a sua vacinação”.
Além disso, frisou, “é lamentável que alguns países continuem a dar prioridade à vacinação de adultos mais jovens, mais saudáveis e com menor risco de doença à frente de profissionais de saúde e pessoas mais velhas noutros locais.” Insistindo que os países “não estão numa corrida uns com os outros”, relembrou: “Esta é uma corrida comum contra o vírus.”
A seu lado, estava também Maria Van Kerkhove, a infeciologista-chefe da OMS, que rematou a sessão enunciando a “lição a tirar” desta última semana: “O coronavírus vai se multiplicar se tiver espaço. Se estamos mais perto de o suprimir, com o início dos planos de vacinação, não podemos agora relaxar”.