O grupo de peritos que está a elaborar o modelo que define as linhas vermelhas para o desconfinamento, pedidas pelo primeiro-ministro há mais de duas semanas ainda não conseguiu chegar a uma decisão consensual quanto aos critérios a adotar. Incluir ou não o número de resultados positivos pelo total de testes feitos e ter ou não em conta os índices não epidemiológicos, como de saúde publica e de cuidados primários, são alguns dos temas em discussão.
Este comité de especialistas, que já reuniu pelo menos três vezes, foi criado por indicação da Ministra da Saúde, Marta Temido, depois de António Costa, na reunião do Infarmed de dia 9 de fevereiro, ter pedido que os peritos chegassem a um consenso sobre as linhas vermelhas para se desconfinar. Isto, apelou o primeiro-ministro, com base num documento com essas linhas apresentado naquela reunião pelo epidemiologista Carmo Gomes – que, entretanto, abandonou os encontros do Infarmed alegando motivos profissionais.
A ministra da Saúde pediu então à Direção-geral de Saúde para formar um grupo de peritos que criasse um modelo sobre essas linhas vermelhas, ou seja, os valores que devem indicar o momento certo para desconfinar e que possa dar alertas para novos confinamentos. Segundo apurou a VISÃO, o grupo que está a elaborar as linhas vermelhas integra vários peritos da Direção-geral de Saúde, como André Peralta Santos, Baltazar Nunes, Carla Nunes e Bernardo Gomes, e tem colaboração de Manuel Carmo Gomes e do matemático e investigador Carlos Antunes, os autores do trabalho sobre linhas vermelhas sobre o qual Costa pediu consenso. Esse trabalho vai, aliás, esta quarta-feira à tarde ser apresentado por Carlos Antunes aos deputados da Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença COVID-19 e do processo de recuperação económica e social.
Neste trabalho, os dois especialistas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa definiram quatro indicadores: a incidência (números de casos), a positividade (resultados positivos pelo total de testes), o valor do Rt (índice de transmissão) e o número de camas de Cuidados Intensivos. Depois criaram quatro graus de risco (risco baixo, risco médio, risco elevado e risco muito elevado ). Para cada um dos indicadores, e consoante os valores verificados, dão uma classificação de risco.
A média de todos os indicadores determinará um risco global. Quando esse risco se situa no nível II (risco médio) e se mantém assim por 5 a 7 dias, indica que chegou a hora de dar início ao desconfinamento. Segundo os autores do trabalho, na segunda quinzena de março essa linha vermelha de risco médio pode ser alcançada, se se mantiver a tendência dos indicadores atuais. De acordo com a análise, estima-se que a incidência se situe abaixo dos 1000 casos diários (parâmetro que fica no risco 1) ; a positividade estará abaixo dos 3% (parâmetro que fica no risco 2), o Rt continuará abaixo dos 1,0 (risco 2) e as camas Cuidados Intensivos abaixo dos 190 doentes (risco 3). Esta é uma combinação que permite desconfinar, tem explicado Carlos Antunes nos últimos dias.
É este método que está agora a ser ainda debatido pelos vários peritos e que, por não terem ainda chegado a uma conclusão, não deram resposta ao desafio de António Costa na última reunião do Infarmed. No entanto, o grupo, que conta também com o matemático da Faculdade do Porto Óscar Felgueiras, deverá voltar a reunir entre hoje, quarta-feira, e amanhã, podendo a qualquer altura chegar a um consenso, quanto aos indicadores a usar para saber o dia em que os portugueses podem começar a sair do confinamento