Muito se falou, na última reunião do Infarmed, da necessidade de definir linhas vermelhas a partir das quais se devem implementar medidas de contenção da transmissão do SARS-CoV-2. Após uma análise das medidas tomadas pelos 28 países da União Europeia, ao longo do último ano de pandemia, Henrique Barros, Presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, defende que “a incidência, os internamentos e as suas taxas de crescimento explicam, não só o passado, como ajudam a tomar decisões futuras”.
O especialista identificou momentos críticos para atuar, de forma a “ter controlo na transmissão do vírus, capacidade de identificar as infeções e agir de conformidade, minimizar o risco de surtos, garantir medidas nos locais apropriados, definir a forma de controlar a importação de casos e garantir que existe uma boa educação para a saúde”.
Relativamente ao que define um momento crítico, o presidente do Conselho Nacional de Saúde não tem dúvidas que as primeiras semanas de janeiro e “o que terá induzido a subida de novos casos” foram um deles. Henrique Barros revelou ainda que o fenómeno aconteceu em paralelo na Europa, Estados Unidos da América, América Central e do Sul, África e, até mesmo, na Oceânia, considerando que, em Portugal, “estamos a fazer proporcionalmente um número maior de testes do que os que estão a ser feitos noutros países”.
Após comunicar que a incidência média e o tempo de duplicação da infeção estão a reduzir rapidamente, Henrique Barros referiu que “um ponto fundamental prende-se com a mobilidade”. “Existe uma relação razoável entre as diminuições da mobilidade e a incidência média dos casos na Europa”, defendeu o especialista, indicando que os valores mais elevados associam-se às medidas mais extremas de resposta ao problema, “como o fechar a generalidade das atividades onde há contactos entre pessoas”.
“Na primeira fase tudo foi diferente”, considera, defendendo que “as decisões foram tomadas muito rapidamente e com pouco tempo a passar sobre os acontecimentos”. Enquanto, na primeira onda, “foi tudo muito radical, ou não se fez nada ou fez-se praticamente tudo”, já na segunda, na Europa, houve diferentes estratégias, dependentes, não só da incidência da doença, mas também dos internamentos.
Observando as medidas tomadas pelos 28 países da União Europeia, ao longo de todos os momentos e semanas de pandemia e estimando, em média, o valor da incidência de Covid-19 nesses mesmos países, à data da implementação de medidas de controlo de transmissão, Henrique Barros apresentou quatro níveis de medidas que foram sendo implementadas na Europa, dependendo de:
Incidência
- Até 217 casos por 100 mil habitantes: a maioria de países não implementou medidas
- Entre 217 e 503 casos por 100 mil habitantes: fecho de cafés e restaurantes
- Entre 503 e 871 casos por 100 mil habitantes: fecho do ensino secundário e superior
- Acima de 871 casos por 100 mil habitantes: fecho ensino básico e pré-escolar.
Internamentos
- Menos de 86 internamentos por milhão de habitantes (860, no caso de Portugal): não foram tomadas medidas
- Entre 86 e 166 internamentos por milhão de habitantes (860 e 1660 no caso de Portugal): a maior parte dos países decidiu que fecharia as escolas.
Segundo o especialista, 14 dias após estas medidas terem sido tomadas nos países europeus, a incidência da doença ainda aumentou antes de começar a diminuir. “A diminuição mais marcada, naturalmente, é a que se segue após o fecho do ensino básico, provavelmente mostrando que está a acontecer já numa fase mais avançada da pandemia”.