Trabalhar a partir de casa é uma tarefa hercúlea para muitos, por vários motivos. Neste caso, o foco será o local escolhido para exercer a profissão: há quem tenha o seu próprio escritório em casa, quem consiga um um pequeno espaço para si numa secretária improvisada ou quem goste de trabalhar na mesa da cozinha, por exemplo.
Mas, de acordo com a BBC, a tendência de trabalhar na cama, principalmente entre os jovens trabalhadores, tem sido cada vez maior. Um estudo publicado em novembro passado concluiu que mais de 70% dos americanos começaram a trabalhar a partir da cama durante a pandemia e um décimo dos inquiridos admitiu passar a maior parte da semana de trabalho precisamente na cama. Também no Reino Unido esta forma de trabalho tem sido cada vez mais comum, sendo que, de acordo com um estudo, os trabalhadores com idades entre os 18 e os 34 anos têm o dobro da tendência de trabalhar na cama do que os mais velhos.
Este hábito pode, no entanto, provocar vários problemas de saúde, tanto físicos como psicológicos, mais tarde. A BBC reuniu alguns deles, sendo que o primeiro tem a ver com a postura corporal. O especialistas afirmam que trabalhar a partir da cama, que é uma superfície macia, faz com que o pescoço, costas e quadris fiquem em permanente tensão e que estes efeitos podem sentir-se mais tarde: dores de cabeça, por exemplo, mas também rigidez permanente nas costas, dor cervical e artrites.
Para quem não tem outra solução que não seja trabalhar na cama – falta de uma cadeira adequada, por exemplo -, os especialistas aconselham a adoção de uma postura neutra, que não provoque qualquer tipo de tensão no corpo. Os especialistas aconselham a colocar-se uma almofada dobrada nas costas, para apoiar a lombar e outra debaixo dos joelhos, a fazer com que o ecrã consiga ficar ao nível dos olhos ou até mais alto e a não se escrever no computador deitado.
Os especialistas dizem, também, que trabalhar a partir da cama afeta a produtividade e os hábitos de sono. Em primeiro lugar, a cama deve ser vista como um local de descanso e, quando se tende a fazer outras atividades lá, tal como trabalhar, o cérebro começa a associá-la a um sítio onde se pode trabalhar e até jogar videojogos, o que, mais tarde, pode evoluir para “comportamentos condicionados”, diz à BBC Rachel Salas, professora de neurologia e especialista do sono da Universidade John Hopkins, em Baltimore, Maryland, nos EUA.
Estes comportamentos têm um impaco negativo na higiene do sono, termo que se usa para descrever os comportamentos que devem ser adotados de forma a aumentar a sua qualidade, porque o cérebro e o corpo começam a deixar de associar a cama ao descanso – o cérebro fica sempre em alerta e não permite um descanso com qualidade, o que leva, muitas vezes, a insónias e a outros distúrbios relacionados com o sono.
Estes maus hábitos de trabalho e sono, e as suas possíveis consequências, tornam-se um círculo vicioso, porque falta de descanso também leva a uma menor produtividade no trabalho. Claro que estas possíveis consequências dependem de vários fatores, como a idade e a frequência ou não destes hábitos. Há quem diga que consegue trabalhar facilmente a partir da cama e que esse hábito não afeta o sono nem a sua saúde, no geral. Contudo, os especialistas alertam para o facto de estas consequências poderem não ser imediatas e, por isso, mais vale prevenir do que tentar remediar.