Desde o início do ano que Israel se tornou no “líder mundial” da vacinação contra a Covid-19. Entre vários fatores que contribuíram para este avanço, como um sólido sistema de saúde público ligado por uma base de dados com tecnologia de ponta, destacou-se um acordo muito especial: no início de janeiro, o primeiro-ministro Netanyahu revelou que o contrato do governo israelita com a Pfizer incluía a concessão de dados sanitários dos vacinados, para que em troca o país tivesse prioridade no fornecimento. “Israel vai tornar-se um modelo para o mundo, uma experiência-piloto, e será o primeiro país a sair da pandemia”, vangloriou-se. Na altura, a BioNTech salientou que “o objetivo do contrato é monitorizar a evolução da pandemia, em função de diferentes índices de vacinação” – mediante a concessão de dados epidemiológicos, como o número de casos confirmados, pacientes hospitalizados ou sujeitos a ventilação assistida, e ainda mortes por Covid-19, por idade, género e região.
Hoje, com mais de 7,1 milhões de doses administradas à sua população de cerca de 8,6 milhões de pessoas, Israel continua a liderar a corrida das seringas – e começam a tirar-se cada vez mais conclusões sobre os efeitos da vacina da Pfizer-BioNtech. No dia 1 de fevereiro, Portugal já tinha recebido 387 270 doses da vacina desta empresa farmacêutica, tornando-a na vacina predominantemente distribuída a nível nacional. Assim, passados quase dois meses, as conclusões preliminares sobre a eficiência desta vacina estão à vista – e são positivas.
As primeiras boas notícias dizem respeito à dose inicial da vacina. Apesar de a Pfizer ter sublinhado que, para atingir a imunidade necessária, são necessárias duas doses administradas com um intervalo de 21 dias, um grupo de cientistas em Israel concluiu que apenas uma dose da vacina já está a contribuir para diminuir a carga viral da doença, tornando mais difícil a sua transmissão a outras pessoas caso alguém fique infetado no intervalo entre a toma das duas doses.
Este estudo, realizado com uma amostra de 2897 pacientes, demonstrou que “as pessoas têm menos quantidades do vírus nas suas correntes nasais”, explicou à ABC Nigel McMillan, professor universitário de doenças infecciosas e imunologia, concluindo que estas “passam a ter uma carga viral cerca de quatro vezes inferior”.
Contudo, estes dados têm limitações: o estudo ainda não foi revisto pelos pares nem contém dados sobre os efeitos da segunda dose da vacina, pelo que serão necessários novos estudos para concluir estas probabilidades com maiores certezas. A Pfizer já anunciou a sua satisfação com os resultados positivos da primeira dose da vacina, mas deixou o alerta de que a administração das duas doses é necessária para atingir a taxa de eficácia de 95% observada nos seus testes.
Esta não foi a única notícia positiva dada a conhecer por investigadores a trabalhar em Israel. Outro estudo independente, organizado pela Clalit, a maior prestadora de cuidados de saúde do país, divulgou que houve uma queda de 94% dos casos sintomáticos de Covid-19 entre 600 mil pessoas que receberam as duas doses da vacina. Os investigadores da Clalit também concluíram que o grupo totalmente inoculado tinha uma probabilidade 92% menor de desenvolver um caso grave da doença, prevenindo possíveis internamentos e reduzindo quase totalmente os danos da Covid-19.
A confirmarem-se estes resultados, que apenas serão publicados após a revisão pelos pares, “isso significa que o vírus vai deixar de ser capaz de circular pela comunidade, que as coisas vão poder regressar ao normal”, afirmou McMillan de forma otimista. A Pfizer mostrou-se mais cautelosa, afirmando que preferia esperar pela publicação do estudo para se pronunciar. Ao longo dos próximos tempos, é expectável que os estudos sobre os resultados da vacinação em Israel se multipliquem – se os resultados continuarem a ser tão positivos, o mundo poderá vir a respirar de alívio.