O frio está a fazer aumentar não só a mortalidade, mas também é apontado como uma das causas que influencia o contágio por Covid-19.
O médico de saúde pública Gustavo Tato Borges, comentando os números do Instituto de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) que atribuem ao frio do mês de janeiro a potencial responsabilidade de 24% do excesso de óbitos, confirma estes valores, e diz que o excesso de mortalidade está claramente associado ao frio. Recorde-se que, em janeiro, foram registados 19 570 óbitos, mais 64% do que no mês homólogo de 2020.
“Sabemos com evidência que as ondas de temperaturas altas ou baixas fazem aumentar a mortalidade. Sendo que, mesmo num ano normal, sem excessos de frio ou calor, nos meses mais frios há mais mortes do que nos meses quentes”, nota o especialista.
A explicação acarreta diferentes variáveis. O frio agrava algumas doenças, como as do foro respiratório; temos tendência a estar mais próximos uns dos outros e em locais fechados e menos ventilados, logo com maior transmissibilidade de infeções virais; as casas não estão preparadas para vagas de frio; o recurso a fornalhas no interior das habitações leva a que haja mais fumo e, consequentemente, a probabilidade de causar problemas respiratórios.
As baixas temperaturas já tinham sido referidas pela ministra da Saúde. Marta Temido, numa entrevista que deu recentemente à VISÃO, adiantou que os estudos nacionais que estavam a ser feitos apontavam para que o excesso de mortalidade que se está a verificar estivesse relacionado com as temperaturas que se verificaram no País. “Segundo dados que possuímos, algum desse excesso pode ser imputado a temperaturas extremas, calor e frio”, revelou a ministra da Saúde, Marta Temido, sublinhando que desde março “houve excesso de mortalidade”. “ Há uma parte desse excesso que é imputada à Covid-19 e há uma parte que falta, e que varia nos meses”, disse. Ou seja, não só o frio está a ser responsável por um aumento de mortes, como também o calor já o tinha sido no verão. Segundo Marta Temido, nessa época do ano o excesso de mortes “foi pouco justificado pela Covid-19”.
Por outro lado, o médico Tato Borges ressalva, no entanto, que é necessário olhar para os números do excesso de mortes como um todo. “Os cuidados de saúde focados na Covid-19 terão deixado muitos doentes com outras patologias sem seguimento e acompanhamento médico.”
Mais 64% de óbitos em janeiro
Os dados preliminares de um estudo do INSA indicam que uma em cada quatro mortes em excesso estará relacionada com as baixas temperaturas. Ana Paula Rodrigues, médica de saúde pública do departamento de epidemiologia do instituto, referiu do Jornal de Negócios que “entre 28 de dezembro e 31 de janeiro, cerca de 69% da mortalidade em excesso é potencialmente atribuída à Covid-19 e cerca de 24% é atribuível às baixas temperaturas”.
Aliás, o Instituto do Mar e da Atmosfera revelou hoje que o mês de janeiro foi seco e o quarto mais frio dos últimos 20 anos, com temperaturas inferiores ao normal. A temperatura média do ar, segundo o IPMA, foi 8,02 graus Celsius (-0,79 em relação ao normal).
No mês de janeiro foram registados 19 570 óbitos, mais 64% do que no mesmo mês de 2020 e um número que passa em cerca de 40% o anterior máximo de óbitos registado em Portugal – em janeiro de 2015 morreram 13 543 pessoas – segundo os dados do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde e do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (Sico) da Direção-Geral da Saúde.