Os peritos da Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa montaram um modelo que combina vários fatores e que permite determinar quando é que o País pode começar a desconfinar com segurança. Segundo apurou a VISÃO, o estudo, que prevê vários cenários, sugere que se o Rt (risco de contágio) se mantiver nos atuais 0.82, então, quando os novos casos diários chegarem aos dois mil diários e o número de positivos por testes feitos for de 5% ou inferior, é sinal de que se pode aligeirar as medidas. Uma situação que pode ocorrer já no inicio de março.
No entanto, esta análise não inclui os dados das Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Caso se opte por incluir o número de camas ocupadas nestes serviços, o estudo prevê que o confinamento tenha de demorar um pouco mais. Isto porque, de acordo com o modelo dos peritos, o números de doentes em UCI teria de baixar para, pelo menos, 350.
Este modelo foi, aliás, apresentado por Manuel Carmo Gomes, na reunião desta terça-feira, 9 de fevereiro, no Infarmed, onde explicou que ele e os colegas da Faculdade, elaboraram um plano que permite definir linhas vermelhas que não podem ser ultrapassadas e que devem levar o Governo a apertar as medidas de confinamento. Da mesma forma, a análise criada permite também verificar quando é que é possível começar a desconfinar, abrindo, por exemplo, as escolas ou pelo menos alguns ciclos.
A análise prevê 5 graus de risco: baixo, moderado, elevado, muito elevado e extremamente elevado. Estes graus são avaliados em relação a fatores diferentes: Rt (índice de transmissibilidade), incidência (novos casos diários). positividade (percentagem de positivos por quantidade de testes realizados). E pode depois também, numa análise mais apertada ainda, incluir o número de doentes em UCI.
Para começar a desconfinar os peritos consideram que a média dos vários fatores tem de se situar no grau de risco moderado. Ou seja, podem uns fatores estarem com melhores cenários do que outros, sendo que o importante é a conjugação dos vários elementos. O Rt, por exemplo, está neste momento em 0,82, o que se traduz num grau de risco baixo. Mas se subir para 0,9 o risco já passa para moderado e quando atinge o 1 chega ao risco elevado.
Quanto à incidência – que neste momento é ainda de 6 mil casos, sendo o nível de risco “extremamente elevado” – quando baixar dos 3 mil passa para o risco elevado e quando chegar aos 2 mil caiu para o moderado.
No que se refere à positividade, que neste momento é extremamente elevada, ela tem de se situar entre os 3 a 5% para que desça um pouco e se torne de risco elevado.
Já as Unidades de Cuidados Intensivos, que se debatem atualmente com uma situação dramática, estando perto das 1000 camas ocupadas, têm de descer até às 350 para que este fator desça de perigosidade (risco extremamente elevado) e seja atribuída a classificação de risco elevado. E para ser considerado risco moderado o número de doentes em cuidados intensivos tem de se situar abaixo dos 200.
Os peritos garantem que com a avaliação conjunta destes diferentes fatores se consegue definir a altura em que se pode pensar em aligeirar as medidas. Para que isso suceda, a média dos vários fatores tem de se situar no nível de risco moderado. E tendo em conta a situação atual, um dos melhores cenários prevê que se o Rt se mantiver nos 0,82 (risco baixo), a incidência baixar para menos de 2 mil casos (risco moderado) e a positividade baixar para 5%, então pode-se avançar para o desconfinamento. Um cenário que segundo as contas dos especialistas poderá ser atingido já no início de março. Mas se se introduzir os doentes em UCI como o quarto elemento de ponderação, então o confinamento terá de se prolongar mais um tempo, pelo menos até meados de março. Aliás, esta última foi a data referida esta terça-feira pela ministra da saúde, Marta Temido, como sendo a duração provável do atual confinamento.
Até porque António Costa deu sinais de querer incluir os dados dos Cuidados Intensivos na análise que quer em cima da mesa para tomar decisões. Isto mesmo foi confirmado à VISÃO por Manuel Carmo Gomes, que apresentou parte deste estudo na reunião do infarmed. “Aquilo que o Senhor primeiro-ministro disse no final da reunião é que solicitava que houvesse uma ponderação sobre a minha apresentação e as linhas vermelhas definidas, para serem tomadas como pontos de partida. Referiu ainda que era preciso ver se a estes pontos seriam acrescentados outros, como é o caso das UCIs, e pensar como podemos afinar as fasquias de cada um daqueles critérios”, diz o especialista, concluindo: “A simples vontade de o Governo olhar o assunto desta maneira já é um avanço”.