Depois de recuperado da Covid-19, Donald Trump disse que o tratamento com anticorpos monoclonais foi o principal responsável pela sua melhoria e definiu-o não como “terapia”, mas como uma “cura.” Apesar de, na altura, não haver provas científicas que sustentassem essa conclusão, a Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos veio a conceder, em novembro, autorização urgente à empresa de biotecnologia Regeneron para a utilização deste tratamento no país.
Também Bill Gates, mais recentemente, veio mostrar a sua confiança no tratamento: “os anticorpos monoclonais não estavam disponíveis para tratar a Covid-19 até novembro, imaginem quantas vidas poderiam ter sido salvas se os tivéssemos meses antes”, afirmou o fundador da Microsoft. Contudo, as novas variantes do vírus – da África do Sul, do Reino Unido e do Brasil – colocaram novos desafios a esta terapia, que se mostrou ineficaz no combate a estas mutações.
“O desafio chegou no Natal, quando as novas variantes apareceram. As mudanças no vírus fizeram com que os picos da proteína rejeitassem estes anticorpos”, disse Nick Cammack, que lidera a campanha de tratamento da Covid-19 da Therapeutics Accelerator, ao jornal britânico The Guardian.
Assim, as três empresas que estão a liderar o tratamento com anticorpos monoclonais – a Regeneron, a Eli Lilly e a GlaxoSmithSkline – têm um sério desafio nas mãos. O tratamento da GlaxoSmithSkline, uma farmacêutica britânica, ainda funciona com as variantes sul-africana e brasileira, mas não com a do Reino Unido. Contudo, tendo em conta os últimos resultados observados, Cammack não acredita que nenhum dos tratamentos atuais venha a ser eficiente durante muito tempo contra estas novas variantes.
Começar do zero?
Apesar destes resultados poucos animadores, há que realçar que o tratamento com anticorpos continua a ser eficaz contra o vírus original da Covid-19. Tanto na Europa como nos EUA, este continua a ser utilizado para salvar vidas nos hospitais.
Agora, os investigadores terão de encontrar uma forma de tornar este tratamento eficaz contra as novas variantes do vírus. Na sua pesquisa, terão de encontrar regiões “conservadas” do vírus, que não sejam mutáveis, para aplicar os anticorpos. “Assim como assistimos às variantes da África do Sul, do Reino Unido e do Brasil, vamos assistir a outras. Precisamos de sequenciação em massa do vírus por todo o mundo, de forma a observar as mudanças no mesmo e a perceber que regiões permanecem conservadas”, afirmou Cammack.
O tratamento com anticorpos monoclonais ataca o pico da proteína do vírus que se “agarra” ao corpo humano. Em geral, estas regiões dos vírus não tendem a mudar muito – caso mudem, não se conseguem agarrar tão bem às células. Mas, na Covid-19, o caso é diferente: “temos um vírus que faz esta mudança, e que se agarra às células ainda melhor. Por isso, estes tratamentos estão perdidos”, disse Cammack, terminando com um tom derrotado: “estamos de volta à estaca zero, sinceramente.”