Muitas vezes, temos na nossa cabeça a lista das compras, aqueles emails que temos de enviar ou os telefonemas que temos de fazer. Mas muitas vezes também, ficamos a pensar numa discussão que tivemos com alguém, ou num momento incomodativo que experienciámos. O problema? Segundo Lewis-Peacock, investigador de Psicologia e Neurociência na Universidade do Texas, só temos espaço para 3 ou 4 pensamentos de cada vez. Solução? Livrar a cabeça de pensamentos inúteis.
Um estudo da Universidade de Colorado em conjunto com a Universidade do Texas quis perceber se é possível, através de certas instruções, “limpar a mente”. Ou seja, eliminar certos pensamentos, de forma a criar espaço para outros. Segundo os investigadores, estes pensamentos – as compras, as tarefas por fazer, etc – encontram-se na memória de trabalho, uma memória temporária. Manter aqui informação é essencial para as nossas atividades do dia a dia, para a nossa cognição, mas expulsar os pensamentos que já não precisamos torna-se essencial para podermos ter um nível de produtividade elevado, ou simplesmente para poder utilizar a nossa memória de trabalho para algo que de facto contribui para melhorar o nosso dia.
Para realizar o estudo foram recrutados 60 voluntários aos quais foram mostradas algumas imagens. Foi-lhes pedido que escolhessem uma delas para manter no pensamento. Depois, disseram aos participantes para substituir a imagem em causa por outra; para limpar a mente por completo, como se faz com as técnicas de Mindfulness; ou então para fazer um esforço deliberado por não pensar em nenhuma imagem, suprimindo-as.
Os investigadores registaram as atividades cerebrais durante todo o processo, através de ressonância magnética, o que lhes permitiu ver o padrão de pensamento. Puderam concluir que dos três métodos aplicados, os dois primeiros, “substituir” e “limpar”, são formas mais rápidas, mas menos eficazes, visto que ficam no background da nossa mente. “Suprimir” foi a forma mais lenta e trabalhosa, mas no fim, a mais eficiente. Então, quando queremos esquecer algo rapidamente, substituímos ou limpamos os pensamentos. Quando queremos fazê-lo permanentemente, temos que o suprimir.
Como podemos então executar estas técnicas?
Substituir – Como o nome indica, vamos tentar substituir uma imagem que tenhamos na cabeça por outra. Então, se estivermos a pensar muito naquela conversa desagradável que tivemos, vamos tentar substituí-la, por exemplo, por uma lembrança agradável. Ou então podemos imaginar um longo e agradável passeio na praia.
Limpar – Para conseguirmos limpar da nossa mente os pensamentos desagradáveis, podemos utilizar técnicas de meditação mindfulness, como observar atentamente a respiração e quando a mente começar a divagar de novo, termos consciência disso, sem nos julgarmos, e voltar a focar na respiração.
Suprimir – Temos bem presente na nossa mente o que queremos esquecer. E direcionamos todas as nossas forças para não pensar nela. É simples, mas difícil e moroso. É o que dá mais trabalho, mas de acordo com o estudo é o mais eficaz.
Poder remover pensamentos indesejados pode ter um impacto significativo na saúde mental uma vez que pode ajudar com o Stress Pós-Traumático e outras perturbações como o Transtorno Obsessivo Compulsivo ou a ansiedade. Estes transtornos têm em comum a existência de pensamentos intrusivos e indesejados que contaminam o que está na nossa mente. Segundo Marie Banich, a outra autora estudo, é esta ruminação de pensamento que está na base de muitas doenças mentais.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um distúrbio psicológico que afeta cerca de 3% da população. É caracterizado pela presença de obsessões, comportamentos ou rituais, todos incontroláveis e indesejados.
Nas obsessões, entram os pensamentos estranhos que não saem da cabeça, alguns medos irracionais, inquietações e dúvidas recorrentes. Tudo isto sobre algo banal. Já o que se insere nas compulsões, são as ações físicas. Nelas incluem-se repetições constantes de certos comportamentos, por exemplo lavar as mãos, limpar a casa ou organizar objetos, fazer contagens desnecessárias sob a crença de que algo mau irá acontecer, caso estas não sejam feitas. O mesmo se aplica à acumulação de objetos, à partida sem utilidade.
Dentro da saúde mental o TOC é um transtorno que pode facilmente ser agravado pela situação atual, devido ao medo do contágio e às medidas que têm de ser cumpridas devido à pandemia. Mas não só. Para quem tem TOC, torna-se mais difícil distinguir entre comportamentos normais que todos os cidadãos devem ter e comportamentos que são provocados pela ansiedade.