Confirma-se que a nova variante do SARS-CoV-2 identificada no sul de Inglaterra pode originar cargas virais 30 a 40 vezes superiores às de outras estirpes. Sendo assim, “é normal que com a mesma proximidade possamos transmitir mais facilmente a infeção a quem está à nossa frente”, ilustrou o investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), João Paulo Gomes, durante a sua comunicação na reunião que reúne políticos e especialistas no Infarmed.
No entanto, de acordo com o especialista, a circulação desta nova variante não é razão para encerrar as escolas.
Um estudo realizado no Reino Unido parecia indicar que a estirpe inglesa afetaria particularmente a faixa etária entre os 10 e os 19 anos. Contudo, os cientistas acabaram por concluir que estes resultados eram “pouco significativos”, uma vez que os dados foram obtidos durante um período de confinamento em que as escolas não estavam fechadas, ou seja, era natural que o vírus tivesse “uma maior probabilidade de propagação na idade escolar”, já que tudo o resto estava encerrado.
De acordo com João Paulo Gomes, a circulação da nova variante identificada no Reino Unido não é razão para encerrar as escolas.
Assim, João Paulo Gomes afirmou que “não há evidência científica” de que a nova variante do Reino Unido afete particularmente as crianças e os jovens.
O INSA e o Instituto Gulbenkian de Ciência uniram esforços na sequenciação do vírus e têm investigado a presença desta mutação do vírus em território nacional.
Dos 1 674 testes de rastreio realizados em aeroportos nos dias 6, 7 e 8 janeiro, a que os investigadores tiveram acesso, 444 deram positivos e, destes, 69 correspondiam à estirpe do Reino Unido, o equivalente a cerca de 15% dos casos.
João Paulo Gomes sublinhou que os testes analisados não tinham sido feitos a passageiros que chegavam ao aeroporto, mas a pessoas da comunidade.
Outro laboratório que forneceu dados aos investigadores realizou 16 mil testes, entre 4 a 10 de janeiro, em todo o território nacional. Deram positivo 4 610, estando a nova variante potencialmente presente em 371 casos, o equivalente a 8%.
Apesar de considerar o peso da mutação britânica “modesto”, o investigador alerta para “a tendência crescente” da sua representação nas últimas seis semanas (desde 1 de dezembro até 11 de janeiro). O que não deve ser encarado como uma surpresa, já que Portugal é um dos principais destinos turísticos do Reino Unido.
“Temos de ter cautela porque a nossa linha de tendência acompanha a que se verificou no Reino Unido e na Irlanda. Temos de a parar para não termos o mesmo cenário”, alertou.
A variante portuguesa
O investigador do INSA revelou, ainda, que Portugal também já teve a sua própria variante do SARS-CoV-2.
Ela foi detetada em dois voos originários de Milão, em meados de fevereiro, que traziam vários industriais de regresso a casa, na região Norte. Alguns deles estavam infetados e originaram uma “disseminação massiva desta variante pelo Norte e Centro do País”.
No final de abril, um em cada quatro casos de Covid-19 em Portugal era causado por esta estirpe que, no total, terá dado origem a cerca de 4 mil infeções.
Contudo, uma vez que a disseminação coincidiu com o período mais rígido de confinamento, entre março e abril, “ela desapareceu do mapa”. Um sinal de que “as medidas de saúde pública foram muito eficazes e conseguiram estrangulá-la”, afirma João Paulo Gomes.