“Temos pela frente as semanas mais difíceis desta epidemia”, anunciou o epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, hoje na reunião do Infarmed, acrescentando, “a única boa notícia é que, depois disto, só pode melhorar”.
Se, a 3 de dezembro, Manuel Carmo Gomes havia previsto a possibilidade de descer abaixo da barreira dos três mil novos casos diários de Covid-19 ainda antes do Natal, a 21 do mesmo mês a situação parecia já ter mudado. “Não conseguimos chegar ao Natal com a fasquia abaixo dos três mil casos nem trazer o Rt suficientemente abaixo de um para termos uma descida mais acentuada”, explicou o epidemiologista aos restantes especialistas e membros do Governo presentes na reunião.
O primeiro indicador que a situação epidemiológica estava a deteriorar-se surgiu a 2 de janeiro, ainda com “um número de casos relativamente baixo (3241), mas que sabíamos estarem subestimados” e confirmou-se ontem, dia em que as projeções estatísticas mostraram uma subida acentuada, “que parece uma parede”, do número de novos casos.
Carmo Gomes revelou que as últimas projeções, de dia 8 de janeiro, são tudo menos animadoras. “A última estimativa que temos é a de um aumento diário de novos casos de 6,5%, o que significa que de 11 em 11 dias vamos duplicar o número de casos”.
A este ritmo, e se nada se alterar, o especialista revela que poderemos chegar aos 18 600 casos, a 19 de janeiro, e às 37 200 novas infeções diárias, a 24 de janeiro.
Ainda que consigamos uma desaceleração do número de novos casos semelhante à registada entre 16 e 28 de março (0,27%), “quando nos encontrávamos em confinamento total”, relembra Manuel Carmo Gomes, “dificilmente evitaremos os 14 mil casos por dia”, número que o epidemiologista acredita ser alcançado daqui a duas semanas.
Para reduzir este valor a metade, Manuel Carmo Gomes afirma serem necessárias três semanas, “assumindo uma descida média de 3,2%, semelhante à que tivemos quando descemos na primeira vaga”, às quais teremos de acrescentar outras três para trazer os valores até 3500 novos casos diários.
À VISÃO, o epidemiologista revelou ainda que, “apesar de não ter dados que permitam discriminar o efeito individual de cada componente da sociedade, a situação é tão preocupante que, por precaução e até achatar a curva, defendo o fecho de tudo menos das escolas das crianças com menos de 12 anos. Depois disso, a reabertura, mas gradual”.
740 internados em UCI e 154 óbitos a 24 de janeiro
Além da progressão epidémica do vírus, Manuel Carmo Gomes estimou ainda a progressão do número de internamentos causados pelo SARS-CoV-2, prevendo que no dia 24 de janeiro existam 4400 pessoas internadas, 720 em Unidades de Cuidados Intensivos. “Dificilmente evitaremos os 700 internados em UCI, vamos ultrapassar essa linha”, assegurou o epidemiologista.
Quanto aos óbitos, que têm apresentado uma tendência ascendente nos últimos dias, Manuel Carmo Gomes prevê 154 óbitos para o dia 24 de janeiro, acreditando ser quase impossível evitar, pelo menos, 140 óbitos por dia. “A confirmar-se teremos 12 mil óbitos acumulados a 9 de fevereiro, um valor muito preocupante”, concluiu.