Provoca uma forte dor, surge repentinamente e pode ser confundida com outros problemas. Para entender e identificar melhor a apendicite aguda (uma inflamação do apêndice), a VISÃO Saúde foi falar com dois cirurgiões – Marisa Santos, coordenadora da Unidade de Cirurgia Colorretal do Centro Hospitalar Universitário do Porto e professora associada do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, e Ângelo Ferreira, cirurgião geral e coordenador do centro multidisciplinar de tratamento da obesidade do Hospital dos Lusíadas Lisboa. Esta doença, que é uma inflamação da pequena bolsa que se situa na primeira porção do intestino grosso, atinge muitas pessoas, essencialmente entre os 10 e os 30 anos, sendo responsável por um grande número de idas às urgências. “Quando diagnosticada atempadamente, torna-se de fácil resolução”, garante, no entanto, a médica Marisa Santos, acrescentando: “Mas, se não for identificada, a apendicite aguda pode acarretar graves consequências, podendo o doente correr risco de vida.”
Aliás, sublinha o cirurgião Ângelo Ferreira, a apendicite aguda é “uma urgência clínica”. Veja as explicações dos médicos e fique a saber mais sobre esta doença que nem sempre e é fácil de entender de imediato. Por isso, avisam os médicos, é essencial conhecer bem os sinais de alarme para que se possa procurar prontamente ajuda.
O que é
É “uma inflamação do apêndice ileocecal, que é um segmento do tubo digestivo, situado na base do cego – origem do intestino grosso, logo após o término do intestino delgado”, explica Ângelo Ferreira. Quando essa estrutura fica com uma obstrução aguda, ocorre uma infeção que se designa, então, por apendicite aguda”, especifica a médica Marisa Santos. É uma das “causas mais comuns de dor abdominal aguda e continua a ser uma urgência clínica”, garante o médico.
Como surge
Pode ser causada pelo próprio tecido do intestino ou por material fecal, refere Marisa Santos. “A causa mais comum é a obstrução do espaço interior do apêndice (lúmen), normalmente por material fecal”, esclarece Ângelo Ferreira. E uma das maiores armas contra este problema, garantem os especialistas, é não deixar que este avance. “Quando a situação não é tratada, pode evoluir para casos mais graves, como uma perfuração associada a um abcesso, ou ainda para a uma infeção generalizada da cavidade abdominal”, avisa Marisa Santos. Isto por uma simples razão: é que essa obstrução “leva a que se acumulem secreções, muco e bactérias que vão originar a infeção e a formação de pus”, esclarece o médico.
Sintomas
Um dos sinais é, sem dúvida, a dor na barriga. “No adulto, há geralmente o aparecimento de uma dor mal definida, persistente, na zona do estômago ou em redor do umbigo”, relata a coordenadora da Unidade de Cirurgia Colorretal, explicando que esta dor tem tendência a localizar-se no quadrante inferior direito do abdómen, tornando-se gradualmente mais intensa. “Com o evoluir do quadro, a dor passa a ser tão forte que o doente não deixa que lhe toquem no local ou em todo o abdómen”, descreve ainda.
“Essa dor agrava-se com os movimentos e é muitas vezes acompanhada de falta de apetite, náuseas, vómitos, febre e diarreia ou obstipação”, indica também o cirurgião Ângelo Ferreira. Por esta razão, muitas vezes assemelha-se a outras doenças. “Pode ser confundida com uma virose, uma gastroenterite infecciosa ou ainda uma enterite inflamatória”, exemplifica a cirurgiã geral do Porto, referindo que as “queixas são habitualmente menos típicas nas crianças e nos idosos, o que pode atrasar o diagnóstico e implicar um consequente agravamento do quadro clínico”. Daí que, frisam os especialistas, a procura de um serviço de urgência deverá ser mais rápida, independentemente do tipo de queixas que o doente apresentar.
Como se diagnostica
Os médicos garantem que o diagnóstico assenta na história clínica e no exame físico ao doente. Em caso de dúvidas, recorre-se a análises ao sangue, à ecografia e à tomografia axial computorizada (TAC). É que, sublinha o especialista do Hospital dos Lusíadas, uma dor abdominal, com estas características e sintomas acompanhantes, pode ter outras origens, nomeadamente: doença inflamatória pélvica – infeção de ovários e trompas; rotura ou torção de quisto do ovário; cólica renal; doença inflamatória intestinal (Doença de Crohn); infeção urinária; rotura de uma gravidez ectópica; gastroenterite.
Como se trata
Na maioria das vezes, o tratamento mais eficaz para a apendicite aguda é, revela o médico, uma “cirurgia para remover o apêndice infetado e o pus envolvente”. “A intervenção cirúrgica, denominada apendicectomia, deverá ser realizada com carácter urgente ou emergente (em caso de peritonite) e pode ser efetuada quer por via convencional, com uma só incisão de médias dimensões, no quadrante inferior direito, quer por via laparoscópica, com três pequenas incisões de cerca de um centímetro cada”, descreve.
E a recuperação, dizem os médicos, é rápida. “A evolução é geralmente muito favorável, tendo o doente alta nos dias seguintes ao ato cirúrgico”, conta Marisa Santos, notando que há, no entanto, casos mais graves em que são precisas outras medidas, como um tratamento com antibióticos e um internamento mais prolongado. “Em situações extremas, pode até ser exigida uma reintervenção cirúrgica com eventual permanência em unidade de cuidados intermédios/intensivos.”
O apêndice faz falta?
Não, garante Ângelo Ferreira: “Apesar de hoje se saber que o apêndice ileocecal tem um papel na defesa imunitária, podemos ter uma vida totalmente normal, mesmo após a sua remoção.”
Uma cirurgia com duas técnicas
Quase todos os doentes acabam no bloco operatório, onde há duas opções cirúrgicas
Operações
A maioria dos casos de apendicite aguda é tratada através de uma cirurgia, existindo, no entanto, duas técnicas. A convencional ou a laparoscópica, sendo que esta última, garante o cirurgião Ângelo Ferreira, permite “um internamento mais curto, uma recuperação menos dolorosa, com excelente resultado estético e com rápido regresso à atividade profissional e física”.
• Via convencional
A cirurgia para retirar o apendicite é efetuada com uma só incisão de média dimensão, no quadrante inferior direito.
• Via laparoscópica
Para remover o apêndice, os médicos recorrem a uma técnica cirúrgica feita com três pequenas incisões de cerca de um centímetro cada.