A dúvida de quem estuda o assunto é fácil de explicar: com a chegada do tempo mais frio – e o apertar das medidas de mobilidade – estamos menos fora de portas e isso, segundo John Bush, professor de matemática aplicada no prestigiado Instituto de Tecnologia do Massachussetts (MIT), pode alterar a eficácia da regra dos dois metros de distância.
“Perigosa e demasiado simplista”, considera mesmo aquele especialista, citado pela Fast Company, explicando antes de mais que, quando se está no interior, as temidas gotículas microscópicas permanecem dentro de um espaço confinado e não é por se estar a dois metros de alguém infetado que se impede o vírus de flutuar pela sala e, potencialmente, o inalar.
Mas se é assim de que forma é que podemos estar de facto seguros entre portas durante este tempo de pandemia? Foi para responder a essa questão que Bush e o seu colega do MIT Martin Bazant criaram um modelo matemático que simula a dinâmica das tais gotículas em qualquer espaço, desde uma acolhedora cozinha até uma gigantesca sala de concertos. Para nos facilitar a vida, dado que a equação não é propriamente simples de entender pelo comum dos mortais, transformaram a sua descoberta numa ferramenta digital gratuita. Ou seja, cada um pode criar o seu próprio cenário personalizado para avaliar que risco corre de ser infetado com Covid-19. Como funciona? É continuar a ler.
À medida da sala de cada um…
A ferramenta assume, então, que uma pessoa na sala está infetada com o SARS-CoV-2 – e depois dá-nos uma série de variáveis como a área desse espaço, se tem ar condicionado e que tipo de filtro tem aplicado, se tem janelas e estão abertas e qual o grau de humidade no ar. Além disso, pode ainda acrescentar se há mais pessoas na sala, se estão de máscara e a usá-la corretamente, se falam baixinho ou estão a cantar…
Por exemplo, imaginemos que acabou de jantar numa sala de qualquer coisa como seis metros quadrados, num grupo de dez pessoas, a falarem normalmente – e que tiraram a máscara quando se sentaram à mesa. “Com base neste modelo, e supondo uma humidade média, a sala só seria segura para dez pessoas durante 18 minutos. Já se estivessem a seis metros e sempre de máscara, então estariam seguros por tempo indeterminado. Ora isso não acontece”, sublinha ainda Bush.
… sem esquecer o fator humano
Então e se usassem máscara e tivessem estado apenas à conversa? Bom, insiste aquele especialista, se o equipamento fosse de algodão, ganhavam mais dois minutos de segurança. Com janelas abertas, para ajudar à ventilação, podiam acrescentar mais seis minutos àquela conta. Caso tivessem optado por usar máscaras cirúrgicas, o tempo seguro aumentaria para duas horas. Mas, cuidado: se fossem usadas de forma incorreta por metade das pessoas – largas ou com o nariz de fora – o tempo seguro baixaria novamente.
Isto tudo para dizer que “o fator humano interfere muito nesta equação”, prossegue o especialista do MIT, antes de avançar com outro exemplo. Suponhamos, agora, que a sala é maior e tem qualquer coisa como 50 mil metros quadrados. Lá dentro estão mil pessoas, com máscaras de algodão, usadas corretamente. Mas desta vez, em vez de uma humidade normal, vamos considerar que o ar é um pouco mais seco. Nestas condições, a ferramenta garante que o tempo de segurança é uma hora e oito minutos – isto se apenas uma pessoa estiver infetada com Covid-19. Agora, obviamente que é apenas um modelo, daí os mesmos investigadores também sublinharem que a melhor forma de reduzir o risco quando se está em espaços fechados é “assegurar que a ventilação é adequada e usar máscara”. Sempre.