Já se sabe que, caso a candidata da Pfizer/BioNTech seja aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), na reunião agendada para 29 de dezembro, a vacinação contra a Covid-19 poderá estar disponível nas primeiras semanas de 2021 no nosso País, de forma gratuita e facultativa.
No entanto, numa comunicação feita aos jornalistas, ontem, 2 de dezembro, a ministra da Saúde não adiantou mais pormenores relativamente aos locais específicos onde será possível receber a vacina, referindo apenas que, para já, será administrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Parece assim ficar de fora a rede de farmácias, ao contrário do que acontece em países como o Reino Unido, França, Estados Unidos da América ou Austrália, que já integraram ou estão em processo de integração dos farmacêuticos comunitários nos respetivos Planos de Vacinação Covid-19.
De facto, o Serviço Nacional de Saúde Inglês (NHS) anunciou, na passada sexta feira, 27 de novembro, a possibilidade de as farmácias constituírem locais de vacinação, desde que cumpram um conjunto específico de requisitos, relativos a instalações, disponibilidade de recursos humanos, recolha e reporte de dados ou cobertura geográfica. O documento divulgado pelo NHS frisa ainda o importante papel que as farmácias podem ter no programa de vacinação contra a Covid-19, a fim de evitar “iniquidades no acesso das várias comunidades à vacina”. Já em França, a Comissão Científica Covid-19 e a Comissão Vacinas Covid-19, nomeadas pelo Governo francês, declararam que “todo o processo pode ser estruturado em linha com os farmacêuticos, por território”.
“Tanto as farmácias como os farmacêuticos portugueses estão disponíveis para, estabelecidos os requisitos necessários, fazer o seu maior esforço e auxiliar, desde o primeiro momento, as outras entidades. Todos juntos não seremos demais para vacinar os portugueses no menor espaço de tempo possível”, assegura Duarte Santos, Presidente do Grupo Farmacêutico da União Europeia (PGEU), que representa mais de 400 mil farmacêuticos comunitários e 160 mil farmácias, de 32 países.
Duarte Santos sublinha o compromisso que as farmácias têm para com as pessoas e o importante papel de proximidade desempenhado no dia-a-dia de muitas comunidades, constituindo-se como “um garante de equidade e universalidade de acesso, presente tanto nas grandes cidades do país como nas mais remotas aldeias”.
Numa carta conjunta, publicada ontem pela Ordem dos Farmacêuticos, a Associação de Farmácias de Portugal (AFP) e a Associação Nacional de Farmácias (ANF) lê-se ainda que “seria incompreensível que Portugal, tendo uma das melhores redes de Farmácias da Europa, com três farmacêuticos, em média, por farmácia, com mais de 5.000 farmacêuticos habilitados para administrar a vacina, não utilizasse esta capacidade instalada para executar o Plano de Vacinação Covid-19”. Como explica Duarte Santos, “este é um momento para tomar decisões muito pragmáticas e usar os recursos que temos o melhor possível”.
Usar os recursos de forma eficaz foi algo que fizeram países como os Estados Unidos da América ou a Austrália. Nos EUA, além do Programa de Vacinação do Center for Disease Control and Prevention (CDC) que dá às farmácias cumpridoras de requisitos específicos a capacidade de vacinar contra à Covid, o Pharmacy Partnership for Long-Term Care Program garante o acesso ao serviço de vacinação Covid-19 a residentes de lares ou residências assistidas. Na Austrália, o Australian Covid-19 Vaccination Policy define as farmácias como um dos locais de administração de vacinas contra a Covid-19 para determinados grupos da população, como os adultos saudáveis.
“Estes são dois bons exemplos de sistemas de saúde que responderam de forma ágil às necessidades das pessoas”, comenta o presidente do PGEU e acrescenta, “na Europa, Portugal tem sido um pioneiro da vacinação nas farmácias, agora é preciso reforçar a integração com os cuidados de saúde primários”. Segundo Duarte Santos, à semelhança do que aconteceu este ano com a vacina da gripe, em que parte do stock do Ministério da Saúde foi disponibilizado para ser administrado nas farmácias comunitárias, nas mesmas condições que os utentes teriam nos Centros de Saúde, “no contexto da Covid-19, deveria ser feita exatamente a mesma coisa”.