Uma fatia da população da China já recebeu aquilo que o resto do mundo ainda aguarda: uma vacina contra o SARS CoV-2, o coronavírus responsável pela pandemia que assola o planeta desde março. A garantia foi dada pelo presidente da farmacêutica chinesa Sinopharm Group, Liu Jingzhen, numa entrevista ao Sichuan Daily. Citado pela imprensa internacional, o responsável sublinhou que uma grande maioria das pessoas não registou efeitos secundários – “apenas um ou outro paciente teve sintomas ligeiros” – e que uma boa parte já viajou para fora do país, sem registo de infeção.
Embora muitos detalhes do processo não sejam conhecidos, sabe-se que, no início do verão, o conselho de estado chinês autorizou que grupos de alto risco – como médicos, funcionários das fronteiras e transportes – começassem a receber uma das três vacinas de fabrico chinês: duas da Sinopharm e uma produzida pela Sinovac. Em agosto, Zheng Zhongwei, o funcionário, governamental encarregado de supervisionar o desenvolvimento de vacinas na China, revelava: “A fim de evitar a propagação da doença no outono e inverno, estamos a considerar já uma expansão moderada no programa [de utilização de emergência]”.
Desde então, foi várias vezes noticiada a disponibilização de vacinas em várias cidades da China. Na província de Zhejiang, por exemplo, em meados de outubro, a administração local garantia ter distribuído mais 750 mil doses – boa parte para os profissionais de saúde do hospital de Hangzhou, a capital da região. Duas outras cidades daquela província, Jiaxing e Yiwu, conhecidas pelas suas indústrias de exportação, também começaram a oferecer vacinas na mesma altura. Segundo revelaram, qualquer pessoa com necessidades de emergência podia mesmo candidatar-se ao processo – e entre esses destinatários estavam, por exemplo, os muitos jovens adultos chineses que estudam no estrangeiro.
Para as administrações locais, confirmou já Yanzhong Huang, especialista em saúde do conselho de relações exteriores do país, tem sido uma das formas usadas para manter o vírus contido e evitar os efeitos dos testes em massa e posterior confinamentos localizados, que se seguiram aos pequenos surtos entretanto registados na China.
Outros já lhe seguiram os passos, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos, o primeiro país fora da China a aprovar a utilização de emergência da vacina da Sinopharm. E apesar das dúvidas levantadas pela comunidade internacional – por o processo não ter seguido os trâmites normais nem terminado todas as fases dos ensaios clínicos – para o chefe da farmacêutica chinesa não há razão para tanto alarido. Desde o final de outubro, assegurou, que está tudo a postos para a produção em massa e para um fornecimento “suficiente e seguro”.