Esta semana, foi anunciada pelo Governo a criação de um grupo de trabalho encarregado de coordenar todo o plano de vacinação contra a Covid-19, desde a estratégia de vacinação à operação logística de armazenamento, distribuição e administração das vacinas. Tudo isto no prazo de um mês.
A especulação (e confusão) tem crescido à volta do plano de vacinação adotado pelo Governo. Na manhã de sexta-feira, 27, foram divulgadas informações a dar conta de que a prioridade seria dada aos doentes graves entre os 50 e os 75 anos, funcionários de lares, médicos e enfermeiros. Por sua vez, António Costa rejeitou colocar os idosos fora do acesso prioritário às vacinas, enquanto o Ministério da Saúde afirmou que “a estratégia de vacinação contra a Covid-19 ainda não foi discutida nem validada politicamente”.
Paralelamente, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, confirmou esta semana que vão ser distribuídas vacinas para 430 milhões de pessoas na União Europeia – o suficiente para todos os seus cidadãos. O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças afirmou que vai distribuir vacinas para “controlar surtos locais ativos.”
Perante este cenário, ficam em aberto várias questões – desde saber quem vai ser vacinado primeiro, a quantas pessoas vão ser vacinadas ou quando começa a vacinação. As respostas a estas perguntas têm variado de país para país, por todo o mundo.
Austrália e Nova Zelândia
Na Austrália, o grupo de trabalho do governo apresentou uma lista dos trabalhadores do país mais expostos ao vírus – que inclui os funcionários das prisões e dos lares de idosos. A seguir a estes, os prioritários serão os idosos, doentes crónicos e tribos indígenas australianas, que tendem a ser desproporcionalmente atingidos pelo vírus.
A Nova Zelândia vai adotar um modelo semelhante à Austrália, com uma colaboração estreita com as tribos indígenas do seu país – as comunidades Maori. O Governo, liderado pela primeira-ministra Jacinda Ardern, afirmou que o seu plano de vacinação vai ser redigido em consonância com as indicações da Organização Mundial de Saúde e que o país tem a obrigação de garantir uma distribuição igualitária da vacina entre todos os países da região das Ilhas do Pacífico.
Canadá
A estratégia passa pela conjugação das análises dos especialistas com a opinião pública dos seus cidadãos. De acordo com o seu plano, “os canadianos dão prioridade às pessoas com doenças crónicas e idosos, assim como aqueles que contactam diariamente com pessoas em alto-risco de contraírem casos graves ou morrerem.” Paralelamente, o Departamento da Defesa do Canadá está a comprar congeladores para “guardar e transportar” vacinas de Covid-19 para os militares.
Coreia do Sul e Taiwan
Os dois países asiáticos tiveram desempenhos excecionais na contenção da pandemia ao longo dos últimos meses. Mas não têm pressa em obter uma vacina o mais depressa possível. Pelo contrário, os. seus governos dão prioridade a segurar uma vacina pelo preço certo – e planeiam comprar vacinas para apenas 60% da sua população.
Equador
Em abril, a taxa de mortalidade da Covid-19 no país sul-americano era uma das piores à escala mundial – de acordo com o New York Times, o verdadeiro número de mortes no Equador era 15 vezes superior aos valores anunciados pelas autoridades.
Perante este início conturbado da pandemia, o governo do Equador apresentou recentemente o seu plano de vacinação, elogiado pelo Diretor da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus. A estratégia do Equador passa por priorizar os bombeiros e funcionários da recolha do lixo, assim como todos os trabalhadores da indústria alimentar e da saúde.
Estados Unidos da América
Nos EUA, vários funcionários governamentais têm vindo a anunciar que os americanos terão de esperar até abril para que a maior parte das pessoas esteja vacinada. Um grupo de trabalho do governo deverá lançar o seu plano de vacinação no dia 10 de dezembro, apesar de o Secretário da Saúde, Alex Azar, ter dito que o governo federal não vai esperar por um plano caso seja aprovada uma vacina antes desse dia.
Existe um consenso entre os americanos em relação a uma parte do plano de vacinação: tanto os funcionários federais como estatais concordam que os 21 milhões de funcionários da saúde são o grupo prioritário para vacinar. No entanto, esse consenso rompe-se quanto à vacinação dos outros grupos de alto risco. Azar afirmou que cada Estado terá a “palavra final” sobre o seu plano de vacinação e que as doses serão distribuídas proporcionalmente, consoante o número de adultos do Estado.
O Governador da Califórnia, Gavin Newson, já anunciou que as comunidades afro-americanas, desproporcionalmente afetadas pela pandemia, estarão na linha da frente do seu plano de vacinação. É expectável que, ao longo dos próximos, governadores de diferentes Estados anunciem os seus respetivos planos.
Índia
Dada as suas divisões geográficas e sociais, a Índia tem sido palco de um fenómeno de grandes variações nas taxas de mortalidade pelo país fora. Em certos Estados, grupos de pessoas com mais de 80 anos têm taxas de mortalidade menores que pessoas de 60 anos de outros Estados.
Perante este cenário, a solução do Governo foi baixar a idade de acesso prioritário à vacina, em comparação com os países ocidentais: todas as pessoas com mais de 50 anos estarão na fila da frente. No entanto, esta não será uma tarefa fácil – há mais de 260 milhões de indianos com mais de 50 anos, não esquecendo os mais de 20 milhões de trabalhadores da área da saúde do país.
Indonésia
A Indonésia optou por um plano de vacinação diferente: ao contrário da maioria dos países, não vai vacinar os idosos primeiros. A sua estratégia passa por, depois de vacinar todos os profissionais da saúde, vacinar todos os trabalhadores entre os 18 e os 59 anos.
O Governo da Indonésia anunciou que espera começar o seu processo de vacinação na primeira semana de dezembro. De acordo com o seu ministro da Saúde, o país necessita de 320 milhões de doses da vacina.
Japão
O grupo prioritário para vacinação no Japão são os idosos com doenças crónicas. O Governo do país planeia distribuir cupões para vacinação gratuita quando a vacina estiver pronta, de acordo o Ministro da Saúde, que pretende garantir a vacinação de todo o país na primeira metade de 2021.
Reino Unido
O grupo de trabalho do Reino Unido encarregado do plano de vacinação do país anunciou a divisão em 11 grupos diferentes de pessoas, ordenados pela sua prioridade. Os primeiros a ser vacinados serão os idosos que vivem em lares, assim como os trabalhadores destes locais. Em segundo lugar, estão todas as pessoas com mais de 80 anos, assim como os trabalhadores da área de serviços sociais e da saúde. Ao longo dos restantes 9 níveis, as pessoas a ser vacinadas são organizadas por ordem de idade, dos mais velhos aos mais novos, que serão os últimos a receber a vacina.