Maria Gomes de Oliveira, anestesiologista e co-fundadora do movimento Médicos pela Verdade, ao lado de mais cinco pessoas – que tem dado muito que falar nos últimos dias devido à grande quantidade de desinformação que dissemina – receitou uma série de estratégias para se conseguirem manipular os testes à Covid-19.
De acordo com o Observador, que teve acesso a várias mensagens na aplicação Telegram, Maria Gomes de Oliveira, que se identifica, na plataforma, como “Maria de Oliveira – Médica” terá dado dicas e conselhos e até passado receitas a quem pretendia testar negativo ao coronavírus. Nas mensagens, que já foram denunciadas à Ordem dos Médicos, leem-se conselhos como tomar alguns suplementos e “limpar as fossas nasais e a orofaringe de todos os restos virais” e a anestesiologista garante que, quem “o fizer regularmente e imediatamente antes de ir fazer a zaragatoa”, testará negativo à Covid-19, mesmo que esteja infetado. Além disso, Maria Oliveira escreveu ser importante consumir “alimentos frescos e variados com muita fruta e legumes” e repousar bastante, assim como realizar um jejum e beber muita água duas ou três horas antes da realização do exame.
Houve, até, o caso de uma grávida – que tem obrigatoriedade de realizar o teste – que quis saber como é que ela e o marido poderiam testar negativo à Covid-19, com o objetivo de conseguirem estar com o bebé assim que ele nascesse, mesmo que estivessem infetados. Para este caso específico, Maria de Oliveira receitou exatamente o mesmo, sendo a única diferença o facto de a grávida não poder tomar os suplementos alimentares que tinha recomendado ao marido. De acordo com as orientações da Direção-Geral da Saúde, as mães infetadas podem estar em contacto físico com o filho recém-nascido e até amamentarem, isto tudo se não tiverem qualquer doença grave. Mas as indicações da anestesiologista podem pôr em causa a saúde da própria mãe, do bebé e dos profissionais de saúde envolvidos no parto, já que tudo tem de ser feito com medidas de proteção especiais.
Numa das mensagens encontradas no grupo, a anestesiologista, que tem sido uma das protagonistas da luta contra a utilização de máscaras e à forma como são realizados os testes, afirma ainda que as pessoas não podem ser obrigadas a realizar o teste, alegando existir uma “pressão pidesca” para que isso aconteça.
Mas estas recomendações têm algum fundamento? O coronavírus entra para as células e, dentro delas, produz novos vírus, portanto, mesmo que, a partir da lavagem das fossas nasais e da garganta possam ser eliminados alguns vírus que estão no exterior das células, os que estão o interior delas permanecem, sendo que as zaragatoas conseguem recolher algumas dessas células.
As denúncias e queixas sobre este movimento têm-se acumulado na Ordem dos Médicos (OM), e já existe um processo a decorrer nos conselhos disciplinares regionais, devido às ideias defendidas pelos Médicos pela Verdade, que negam a existência de uma pandemia de Covid-19, e são contra a utilização de máscaras de forma generalizada, a forma de testagem em vigor e o isolamento de pessoas assintomáticas. A OM garante já estar a investigar um grande conjunto de informações e documentações relacionadas com os médicos que compõem este movimento.
Segundo o Observador, Maria Gomes de Oliveira está registada na secção Sul da Ordem dos Médicos. O jornal questionou a anestesiologista sobre as receitas e conselhos que deu a várias pessoas na aplicação, mas Maria Oliveira recusou responder.