No dia 23 de setembro, o Instituto Holandês do Cancro publicou um estudo a anunciar uma surpreendente descoberta anatómica: a existência de um conjunto de glândulas salivares dentro da cabeça dos seres humanos.
As glândulas salivares são responsáveis por produzir a saliva, essencial para o funcionamento do nosso sistema digestivo. A maior parte deste fluído é produzido pelas três grandes glândulas salivares: a parotídea, a submandibular e a sublingual. No entanto, um grupo de médicos holandeses descobriu um quarto grupo, nunca antes investigado.
A “entidade desconhecida” foi identificada pelos médicos enquanto analisavam os exames PET-PSMA de pacientes com cancro da próstata. Este tipo de exames permite encontrar pequenos tumores que se encontrem numa fase inicial de desenvolvimento.
Uma surpresa
Os médicos foram surpreendidos pelos exames quando verificaram que algo estava atrás da nasofaringe dos pacientes – e não era um tumor.
“As pessoas têm três conjuntos de grandes glândulas salivares, mas não naquele sítio”, explicou o oncologista Wouter Vogel, do Instituto Holandês do Cancro. “De acordo com o que sabíamos até agora, as únicas glândulas salivares ou mucosas na nasofaringe só podiam ser vistas com um microscópio. Por isso, conseguem imaginar a nossa surpresa quando descobrimos isto ao analisar os exames.”
A nova descoberta da equipa de Vogel revelou um possível quarto grupo de grandes glândulas salivares, localizado no centro da cabeça humana, atrás do nariz e acima do palato.
“As duas novas áreas que se iluminaram parecem ter características de glândulas salivares”, disse o primeiro autor do estudo, o cirurgião oral Matthijs Valstar, da Universidade de Amsterdão. “Nós chamámos-lhes glândulas tubárias, dada a sua localização anatómica [acima do toro tubário]”.
Os investigadores confirmaram que estas glândulas tubárias podem ser observadas em todos os exames PET-PSMA dos 100 pacientes. A análise de dois cadáveres – um homem e uma mulher – também revelou esta misteriosa estrutura bilateral, com um canal de escoamento que se dirige em direção à parede nasofaríngea.
Uma descoberta inédita
“De acordo com o nosso conhecimento, esta estrutura não se insere em quaisquer estudos anatómicos passados”, revelaram os investigares no seu estudo. “Foi apenas levantada a hipótese desta área conter um elevado número de acino seromucoso, com um papel fisiológico na lubrificação da nasofaringe.”
Os investigadores consideram que a razão para estas glândulas nunca terem sido identificadas se prende com a sua localização anatómica de difícil acessibilidade. De acordo com o estudo, é possível que anteriormente se tenham observado algumas aberturas de canais nesta área – mas sem se compreender o que realmente eram.
Apenas as novas técnicas de imagiologia dos exames PET-PSMA é que são capazes de identificar esta estrutura como uma glândula salivar, ao contrário de outras tecnologias como as ressonâncias magnéticas. Apesar disso, a equipa admite que será necessária uma maior investigação para validar todas as suas descobertas.
Os médicos holandeses garantiram que a sua investigação pode ser revolucionária para os tratamentos com radiação em pacientes com cancro. Tendo em conta que as glândulas salivares são altamente suscetíveis a este tipo de terapia, este estudo poderá trazer benefícios para a área da oncologia – ao saber da existência das glândulas, os médicos tomarão as precauções necessárias para evitar efeitos secundários de tratamentos com radiação.