Os testes em seres humanos podem ser úteis para ajudar a compreender as doenças, como foi o caso da malária ou do vírus influenza ao longo dos anos. Neste sentido, o Governo do Reino Unido anunciou hoje que planeia conceder um apoio de 10.9 milhões de euros para realizar testes em humanos para a Covid-19. Os objetivos do estudo passam por aprofundar os conhecimentos sobre o vírus e encontrar uma potencial vacina para o mesmo.
Os testes vão ser realizado pela empresa irlandesa Open Orphan, no Hospital Royal Free, em Londres. A empresa pretende iniciar os testes em janeiro de 2021. No entanto, a ideia de infetar seres humanos levanta questões no campo da medicina e da bioética.
500 voluntários entre os 18 e os 30 anos
O teste em humanos, apelidado de “COVID-19 Challenge Study”, terá entre 30 e 50 participantes, de acordo com Andrew Catchpole, virologista e chefe do departamento científico da empresa. Os voluntários serão adultos saudáveis entre os 18 e os 30 anos de idade.
O teste vai consistir na administração de uma dose baixa do vírus da Covid-19 aos voluntários. Caso os participantes não fiquem infetados, os investigadores terão de pedir autorização a um painel de monitorização independente para administrar doses superiores do vírus, até que a maior parte dos voluntários esteja infetado. Assim, os investigadores poderão identificar a dose necessária para infetar os participantes.
Identificada a dose necessária para infetar uma pessoa, a Open Orphan poderá posteriormente testar a eficácia das diferentes vacinas nos seus testes.
A empresa pretende atingir a meta dos 500 voluntários. A compensação para cada um dos participantes será determinada por uma comissão de ética. De acordo com Catchpole, a Open Orphan costuma pagar cerca de 4300 euros a cada voluntário.
Opiniões divididas
Apesar de o Governo Britânico já ter anunciado o seu apoio à iniciativa, os testes ainda não foram aprovados. De forma a poder iniciar os testes em humanos, é necessário um parecer positivo da Agência Reguladora da Saúde Britânica (MHRA), assim como de uma comissão de ética. Até ao momento, estas entidades ainda não se pronunciaram.
O anúncio destes testes em humanos tem dividido a opinião pública do país. Os seus defensores alegam que os mesmos podem ser realizados de forma segura e cumprindo os requisitos éticos. Para além disso, afirmam que o grande potencial do teste para identificar rapidamente as vacinas eficientes prevalece sobre o baixo risco de saúde para os voluntários.
Por outro lado, os opositores dos testes levantam questões sobre a necessidade e a segurança destes estudos. Em breve, a comunidade científica vai ter acesso aos resultados dos testes de várias vacinas para a Covid-19, realizadas com milhares de voluntários. Por essa razão, não consideram ser necessário correr este risco.
Para além disso, alegam que é eticamente questionável a introdução de um vírus potencialmente maligno no corpo de um ser humano. Foi por essa razão que recentemente os investigadores de um laboratório japonês utilizaram cadáveres para testar a duração do vírus da Covid-19 na pele dos seres humanos, em vez de voluntários.