O médico Jorge Sales Marques garante que um recente documento da Associação Americana e Faculdades de Medicina ( Association of American Medical Colleges – AAMC) vem dar resposta a muitas questões práticas sobre os testes à Covid-19 . “O artigo publicado pela AAMC , em 5 de outubro sobre os testes à Covid-19 (“Your covid 19 testing questions – answered”) deixa-nos pistas importantes sobre o tema e principalmente esclarece dúvidas sobre diversas questões pendentes, como o timing ideal para a realização dos testes e a sua verdadeira interpretação”, diz. E acrescenta: “Neste trabalho são abordadas perguntas do nosso quotidiano tais como: ‘Devemos fazer o teste logo após o nosso colega ou amigo ter testado positivo’? ‘Devemos fazer o teste antes de visitarmos a nossa avó no lar ? Se os testes forem negativos significa que não estamos infetados?’ ‘Se alguém testar positivo, precisa de um teste negativo para poder sair de casa?’
Jorge Sales Marques avisa que, segundo o que é defendido pelos peritos daquela associação, em Portugal “estamos a fazer poucos testes para a Covid -19, face às recomendações internacionais”. Isto porque, sublinha , “estamos a guardar estes mesmos testes para aqueles casos em que necessitam mesmo”. O especialista da Clínica Lusíadas, em Gaia, que durante a fase inicial da pandemia esteve em Macau, como representante dos Serviços de Saúde, responde às principais dúvidas com base nas conclusões daquele organismo norte-americano.
Que tipo de testes existem e o que detetam?
Existem dois tipo: um para infeções ativas e outro para infeções prévias.
O teste de PCR (polimerase chain reaction, ou, em português, reação em cadeia da polimerase ) é o principal teste para infeções ativas, por causa da sua alta sensibilidade . O lado negativo deste teste é o preço elevado e o tempo demasiado longo para obter o resultado. Este teste é usado nos hospitais e em pessoas sintomáticas.
O teste de antigénio é menos dispendioso e o resultado é obtido em pouco tempo (minutos) embora do ponto de vista de sensibilidade, seja francamente inferior, com falsos negativos que podem atingir os 50 por cento. Isto significa que uma pessoa pode estar infetada, mesmo tendo negativo este tipo de teste. Este teste é mais indicado no rastreio em escolas ou universidades em que os responsáveis tentam saber a prevalência do vírus nestes locais ou no rastreio da população em geral . Nos casos sintomáticos, a melhor escolha será sempre o teste de PCR.
Em relação ao teste do anticorpo, que determina se uma pessoa foi infetada no passado, pode não ser eficaz porque os anticorpos desaparecem após algum tempo (ainda não é certo quanto) e esta ausência pode significar simplesmente a não presença na circulação sanguínea. Esta dúvida continua por esclarecer nos meios científicos.
O que fazer se houve contacto com um familiar ou amigo testar positivo ?
Se um amigo ou familiar testou positivo, a pessoa que esteve em contacto deve fazer o teste, mesmo sendo assintomática . As pessoas que não apresentam sintomas são responsáveis por 40-45% dos casos de infeção e são portadoras do vírus nos pulmões e na nasofaringe , tais como os que apresentam sintomas. Segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), 50% de todas as infeções são provenientes de doentes assintomáticos. O dado importante deste artigo refere que nunca deve ser feito o teste de imediato ou mesmo no dia seguinte à exposição. Se o teste for feito no mesmo dia ou nos dias seguintes à exposição, a possibilidade de ter falsos negativos varia dos 50-100 por cento. Isto significa que ter o teste negativo, não é igual a não estar infetado por Covid-19 , se o teste for realizado muito precocemente. O pico de aparecimento de sintomas é ao 5º dia após a exposição ao vírus e o pico de infeção é 2 dias antes e 1 dia depois do surgimento dos sintomas.
Devemos fazer teste antes de fazer uma visita a um lar?
O ideal seria fazer a quarentena prévia. Mas esta recomendação não é aplicável na prática porque ninguém irá fazer. O ideal seria fazer o teste 5 dias depois de alguma possível exposição e seguir todas a medidas sanitárias previamente à visita. Ou fazer o teste para ver se é portador assintomático ou se está numa fase pré-sintomática.
Quanto tempo, em média, fica um doente infetado?
Segundo um estudo no JAMA Internal Medicine publicado online no dia 6 de agosto, em média, nos assintomáticos, a infeção demora cerca de 17 dias após o diagnóstico para teste negativo e nos sintomáticos 19 a 20 dias. Isto não significa que as pessoas continuem infetadas. Isto deve-se ao teste do PCR ser extremamente sensível e os testes resultarem positivo semanas após a infeção, por causa do RNA residual. O teste não distingue vírus vivos dos mortos.
Daí surge outra pergunta: Quando podemos voltar à nossa vida normal? A fase de maior infeção e consequentemente contágio, surge quando aparecem os sintomas. No caso de doentes sem sintomas, o CDC aconselha uma quarentena de 10 dias após o teste ter sido positivo, uma vez que o risco de contágio é mínimo.
A estratégia de testes em Portugal está correta?
Com base nas recomendações da AAMC, os testes são feitos muito precocemente, ou no mesmo dia ou no dia seguinte à história de contacto de alto risco com a pessoa infetada. Caso seja negativo, as pessoas que estiveram próximas da pessoa infetada, podem voltar ao trabalho. “Se partirmos de princípio que estas recomendações são recentes( 5 de outubro) de uma entidade que dispensa apresentações e com total credibilidade científica (AAMC), não estamos a fazer corretamente”, diz o clínico, que acredita que pelo menos cerca 50% dos casos foram falsos negativos.
Atendendo ao que foi escrito até ao momento, é de recomendar que os testes à Covid-19 sejam repetidos ao 5º dia e, durante este período, as pessoas que estiveram em contacto com o caso positivo, devem ficar em quarentena. “Qualquer outra solução, é um risco que o cidadão comum corre, sem qualquer tipo de necessidade. Na prevenção ganhamos sempre”, conclui.