Mesmo antes da divulgação do boletim da Direção Geral da Saúde, António Lacerda Sales, secretário de Estado adjunto e da Saúde, já avisava, esta manhã, que Portugal tinha ultrapassdo os mil novos casos diários de Covid-19 nas últimas 24 horas. Foram 1.278. O valor, ultrapassado no nosso País apenas a 31 de março e 10 de abril deste ano, parece preocupar o governante que esta quinta-feira, em visita ao hospital de Braga, alertou “o País tem de estar preparado para o que aí vem”.
Ainda assim, o número não é uma completa novidade. Há duas semanas, o primeiro-ministro António Costa havia já referido que Portugal estava a acompanhar a tendência europeia de aumento de infetados pelo novo coronavírus, podendo atingir os mil novos casos diários, e apelou a um cumprimento das medidas sanitárias, sublinhando a importância de responsabilidade de cada um na mitigação da pandemia.
Também o virologista Pedro Simas refere que, agora, mais do que nunca, é essencial o uso da máscara, a desinfeção das mãos, o respeito pelas regras e a proteção dos grupos de risco, explicando que, no entanto, “nesta fase inicial, em que ainda não há imunidade de grupo, mas as pessoas voltaram a circular, era de prever que aumentasse o número de casos”.
“Temos de ter cautela”
Apesar de o número de novos casos diários estar de acordo com as previsões dos especialistas, e poder até contribuir para o desenvolvimento da imunidade de grupo, caso não se registe nos grupos de risco, é importante não deixar a situação evoluir de forma descontrolada. “Temos de ter uma certa cautela”, alerta Pedro Simas e acrescenta, “estamos numa fase tão incerta que convém haver alguma calma e que as pessoas usem mesmo a máscara para que este aumento seja um planalto e não comece a subir descontroladamente”.
Num contexto em que o novo número de casos diários ultrapassa os mil, o País poderá vir a ter uma média semanal de cerca de 70 casos, e não 50 como desejável, por 100 mil habitantes. No entanto, é importante perceber se estes novos casos estão distribuídos mais ou menos irmãmente pelo território nacional, com alguma concentração natural nas zonas mais urbanas, o que, segundo Pedro Simas, “graças à maior capacitação que temos vindo a adquirir para proteger os grupos de risco, tornaria o valor relativamente controlável”, ou se, pelo contrário, se concentram apenas numa zona do País. “Por exemplo, se os mil casos estiverem todos concentrados na região de Lisboa e vale do Tejo, tendo em conta que falamos de três milhões e meio de pessoas, teríamos cerca de 210 casos por 100 mil habitantes. Isto seria um desastre para esta região”, explica o virologista.
A evolução do número de casos deverá ser acompanhada de um olhar atento, por parte do Governo, relativamente à forma como esta se regista nas várias zonas e pontos críticos do País. “O Governo tem essa noção e desenvolveu um plano estratégico de consequência. Nos lares que se encontram em zonas que, epidemiologicamente, estão a ter muitos casos já há uma ação de prevenção maior”, afirma Simas.
Ainda vai subir?
“Tenho a esperança que a situação estabilize, que crie um patamar. É importante criar um degrau comprido em vez de termos degraus curtinhos que estejam sempre a subir, porque isso é uma vaga contínua”, alerta o virologista, revelando que as próximas duas a quatro semanas serão muito elucidativas, uma vez que refletirão o impacto da abertura das escolas, que ocorreu há pouco mais de quinze dias.
O importante é, portanto, estabilizar, chegando a um valor que permita ao País encontrar um equilíbrio. “Vamos ter de perceber quanto Portugal conseguirá aguentar”, conclui Pedro Simas.