Em 2019, mais de 33 milhões de pessoas já tinham morrido com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). Desde que apareceu, nos anos 80, contam-se cerca de 76 milhões de casos . Estima-se que há 1.7 milhões de novas pessoas infetadas por ano.
No entanto, assistimos a um grande progresso na luta contra a sida ao longo dos últimos anos. O seu diagnóstico deixou de ser uma “sentença de morte”. Atualmente, 25 milhões de pessoas – num total de 38 milhões de casos ativos em todo o mundo – recebem um tratamento antirretroviral que previne outras doenças e suprime o vírus, reduzindo a probabilidade de transmissão a outras pessoas.
A Covid-19 é diferente da SIDA. Quando contraímos o VIH, ele nunca sai do nosso corpo. O SARS-CoV-2, vírus da Covid-19, é um caso diferente – ele pode entrar e sair do nosso corpo mais do que uma vez. Ainda assim, escreve William Haseltine, da Universidade de Medicina de Harvard, na Scientific American, “podem ser feitos vários paralelismos entre os dois vírus”. Entre estes, contam-se a dificuldade em encontrar a “vacina perfeita”, a importância dos tratamentos com medicamentos a influência do comportamento humano na propagação do vírus.
Vacinas ou medicamentos?
“Infelizmente, ninguém consegue prever com certezas se é possível fazer uma vacina para a sida”, disse Haseltine ao Senado dos EUA, em 1985. Passados 35 anos, ainda nenhum laboratório conseguiu criar uma vacina que garantisse a imunidade total contra o vírus.
Hoje, a investigação da vacina para a Covid-19 também enfrenta diferentes obstáculos. Nem toda a gente fica imune ao vírus depois de estar infetada – resta saber se uma vacina conseguirá produzir esses anticorpos. Por outro lado, não sabemos quanto tempo durarão esses anticorpos. De acordo com Haseltine, “os cientistas poderão demorar 2 a 3 anos a recolher esses dados.”
O grande risco de experimentar vacinas em seres humanos são os seus efeitos secundários. Os médicos preferem administrar um medicamento com possíveis efeitos secundários a uma pessoa infetada do que correr esses riscos com uma pessoa saudável. Essa é uma das razões pela qual já há diferentes tratamentos com medicamentos para a sida, mas ainda não existe nenhuma vacina.
Hoje em dia, o tratamento mais eficiente é a “terapia antirretroviral” – os doentes tomam uma combinação de três medicamentos, que atacam o vírus VIH de formas diferentes. Este tipo de terapia poderá ser necessária para a Covid-19, diz o médico americano: “os estudos de laboratório revelam que o vírus da covid-19 desenvolve uma resistência rápida a vários medicamentos. Por essa razão, poderá ser necessária uma combinação de medicamentos para combater o vírus – à semelhança do tratamento para a SIDA.”
A importância da mudança de comportamento
Quando o vírus da sida se começou a espalhar pelos EUA, foram realizadas várias campanhas a promover uma mudança de comportamento das pessoas, na sua vida sexual. Os médicos aconselhavam o uso de preservativos para evitar a propagação da SIDA. No entanto, a resposta da população não foi imediata.
De acordo com Haseltine, “quando uma das pessoas de um casal testava positivo para o VIH nos anos 80, os médicos alertavam imediatamente para a necessidade de usar preservativos nas relações sexuais”. No entanto, “apenas um terço das pessoas seguiu esta recomendação. Nos cinco anos seguintes, mais de três quartos dos parceiros que não estavam infetados contraíram o vírus”.
O médico acredita que os casais não seguiram as recomendações porque “a sexualidade humana – a necessidade uma ligação física – faz parte da nossa natureza”. No século XIX, todos sabiam que a sífilis se transmitia por via sexual. Ainda assim, 15% dos americanos contraiu a doença no início do século XX.
As restrições como o isolamento e o distanciamento também vão contra a nossa natureza – o contacto com outras pessoas é essencial para todos nós, em especial para os mais novos e para os que vivem sozinhos. Os seres humanos não foram feitos para contrariar os seus impulsos biológicos – mas pode ser necessário que o façam para combater certas doenças.
Os novos tratamentos com medicamentos e a mudança de comportamentos das pessoas permitiram uma redução drástica dos casos de SIDA nos últimos ano, por todo o mundo. Em Portugal, o número de infetados caiu 67% nos últimos dez anos. A mudança de comportamentos no combate à sida pode servir como exemplo para a pandemia que vivemos nos dias hoje.