Quando “António” e “Maria” (nomes fictícios), casados e com dois filhos, de 8 e 4 anos, souberam que um familiar tinha testado positivo para a Covid-19, contactaram imediatamente a Saúde 24 – tinham jantado em casa dele uns dias antes. Foi-lhes dito para fazerem isolamento profilático.
No dia seguinte, António acordou com tosse. O casal foi ao Hospital de Santarém para fazer o teste da Covid-19. O marido fez o teste de manhã, assim como umas análises e um raio-X ao tórax. A mulher foi fazer o teste à tarde. Como não apresentava quaisquer sintomas, não foi necessário realizar outros exames.
Quando terminaram o teste, foi-lhes dito que o hospital só comunicava os testes positivos. Caso não fossem contactados, significava que tinham testado negativo. O casal ficou a aguardar o contacto – ou o “não contacto” – do Hospital de Santarém.
Os primeiros resultados
No sábado, por volta das 18h, Maria foi contactada pelo Hospital de Santarém. Uma médica informou-a que tinha testado positivo para a Covid-19. Quando a mulher perguntou pelo seu marido, foi-lhe dito que não havia nenhum António na “lista dos positivos”. Logo, o outro teste era negativo.
O casal achou que os resultados eram curiosos – “quem tinha os sintomas era ele”, contou Maria à VISÃO. No entanto, seguiram as indicações da Direção-Geral de Saúde para casos infetados com Covid-19. A mulher ficou isolada num quarto e António ficou a tomar conta dos filhos. Nenhum deles saiu de casa durante a semana.
Maria foi acompanhada à distância desde o início pela técnica de saúde da Lezíria. “É de louvar o tempo que dedica às pessoas que estão doentes”, elogia Maria, que descreve a médica como “a heroína desta história”.
O negativo… que era positivo
Passados cinco dias desde que soube do seu teste positivo, Maria recebeu uma chamada da técnica de saúde. Foi-lhe dito que algo de estranho se passava: a base de dados indicava que o seu marido tinha testado positivo para a Covid-19. A técnica de saúde contactou o Hospital de Santarém, que lhe confirmou essa informação.
Maria não compreendeu o que esteve na origem deste erro: “Se calhar o teste do meu marido ainda não estava disponível quando me ligaram e depois esqueceram-se de nos avisar.” Quando falou com o hospital, disseram-lhe que “o processo é falível”.
António descobriu que tinha Covid-19 cinco dias depois de lhe dizerem que o seu teste era negativo. A família teve de adotar novos cuidados – durante a semana apenas Maria tinha estado em isolamento total. O seu marido, apesar de “nunca ter saído de casa”, manteve-se encarregue de tomar conta dos filhos e da casa, desde sábado até quinta-feira. Até ao momento, as crianças não apresentaram quaisquer sintomas e o casal mantém-se com sintomas leves.
O “grande desnorte”
Maria classifica a conduta do Hospital de Santarém como “um grande desnorte”. Para além desta falha a entregar os resultados do teste, também teve de ser a própria a informar a Saúde 24 que estava infetada com Covid-19 – algo que é da responsabilidade do hospital – e conta que não ainda recebeu o código de diagnóstico da aplicação “Stay Away Covid”.
Contactado pela VISÃO, o Hospital de Santarém admite “uma deficiente compreensão da comunicação entre o Hospital e a utente”. No entanto, considerou que esta “não é imputável a qualquer das partes”. De acordo com Henrique Plantier, do Gabinete de Comunicação do Hospital, “em algum momento foi dito que o teste do marido era negativo e foi claramente explicado que, mesmo que o resultado dos teste fosse negativo, António estava obrigado a cumprir o período de quarentena previsto.”
Assim, o hospital lamentou a “comunicação deficiente com o utente” mas sublinhou que “a falta desta comunicação expressa não compromete o que é importante neste caso: o confinamento destes doentes, evitando o contágio de outras pessoas”.
Apesar das informações contraditórias prestadas pelo hospital, Maria diz que não pensa em apresentar queixa. “Neste momento, estou preocupada em que todos fiquemos bem”. Por outro lado, uma ação contra o Hospital de Santarém implicaria “muito dinheiro, muito tempo e não ia dar a lado nenhum”.