O Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE), no Reino Unido, sugere que os analgésicos como o paracetamol, o ibuprofeno, a aspirina e opióides são mais prejudiciais do que benéficos para as dores crónicas. Estes medicamentos podem fazer “mais mal do que bem” e não devem ser prescritos para tratar dor crónica.
Vários estudos sugerem que existe “pouca ou nenhuma evidência” de que os analgésicos façam alguma diferença na qualidade de vida, dor ou sofrimento psicológico dos doentes, mas os especialistas que publicaram a análise esta semana vão mais longe e garantem ter provas de que os medicamentos podem causar danos nos pacientes, a começar por um bastante óbvio: o risco de adição.
A dor crónica é considerada uma dor que perdura vários meses, no mínimo três meses, após a resolução da lesão ou problema que originalmente causou a dor. A dor crónica pode tornar o sistema nervoso mais sensível à dor, ao estimular repetidamente as fibras nervosas e as células que detectam, enviam e recebem sinais de dor.
“A dor primária crónica representa a dor crónica como uma condição em si mesma e que não pode ser explicada por outro diagnóstico”, explicam os especialistas. Esta dor ” é caracterizada pelo sofrimento emocional significativo e incapacidade funcional”.
O que este esboço de diretriz pretende é que exista um maior cuidado, por parte dos médicos, quando receitam os analgésicos aos pacientes com esta condição. “Esta incompatibilidade entre as expectativas dos pacientes e os resultados do tratamento podem afetar o relacionamento entre profissionais de saúde e pacientes, cuja consequência possível é a prescrição de medicamentos ineficazes, mas prejudiciais”, refere Nick Kosky, psiquiatra da Dorset Healthcare NHS University Foundation Trust. “Esta diretriz, ao promover um entendimento mais claro das evidências para a eficácia dos tratamentos para dor crónica, ajudará a melhorar a confiança dos profissionais de saúde nas suas conversas com os pacientes”, acrescenta. “Ao fazê-lo, isto ajudará os médicos a gerir melhor as expectativas próprias e dos seus pacientes”.
A instituição refere que cerca de um terço, ou até metade da população do Reino Unido, pode ser afetada por uma dor crónica, enquanto quase metade das pessoas com a doença tem um diagnóstico de depressão e dois terços não conseguem trabalhar por causa disso.
A análise, que está disponível para consulta pública até ao dia 14 de agosto, indica que as pessoas com essa condição deveriam ter vários programas de exercícios em grupo, alguns tipos de terapia psicológica ou até acupuntura. Os especialistas também recomendam que alguns antidepressivos possam ser considerados.
“Quando muitos tratamentos são ineficazes ou não são bem tolerados, é importante entender como a dor está a afetar a vida de uma pessoa e as pessoas à sua volta”, considera Paul Chrisp, diretor do NICE. “É importante ressaltar que o esboço desta diretriz também reconhece a necessidade de mais pesquisas em toda a gama de opções de tratamento possíveis, refletindo a falta de evidências nesta área e a necessidade de fornecer mais opções para as pessoas com a doença”.