Durante o período de confinamento mundial, que começou no início da primavera, muitos médicos deram conta de um esvaziamento das unidades de cuidados intensivos neonatais – já são vários os testemunhos a nível global que reportam uma diminuição do número de bebés prematuros.
Na Dinamarca e na Irlanda, por exemplo, equipas de médicos analisaram os números e descobriram que os partos prematuros, principalmente os casos mais perigosos, caíram no período de maiores restrições de circulação. Quando publicaram as suas descobertas foram surpreendidos por muitos relatos semelhantes, escreve o New York Times.
Os estudos ainda não foram revistos por pares e foram apenas publicados em sites de pré-publicação. Mas, a confirmar-se, a redução é muitíssimo significativa. Em certos hospitais, as quedas rondam os 90%, como no caso do Statens Serum Institut, em Copenhaga.
Outros especialistas, no entanto, garantem que as suas unidades de cuidados intensivos neonatais estão tão cheias e ocupadas como sempre. Os confinamentos parecem ter impedido os nascimentos prematuros em certos hospitais nos EUA, Holanda e Austrália, mas não noutros.
Por isso, investigações sobre as causas e impacto das atitudes provocadas pela pandemia nas mulheres grávidas podem ajudar a revelar as causas do parto prematuro e evitá-lo no futuro. As equipas médicas têm especulado sobre fatores que podem ter contribuído para esta tendência. Entre os “suspeitos”, estão a melhoria da qualidade do ar provocada pela redução do tráfego e de atividade industrial, mas também o facto de muitas grávidas estarem sujeitas a menos fatores de stress e infeções virais por estarem em casa.
Enquanto uma gravidez normal dura aproximadamente as 40 semanas, os partos prematuros socorrem abaixo das 37. “A prematuridade ocorre em cerca de 5% dos partos. Dentro das gravidezes de risco, esse número pode ser maior”, explica Alexandre Valentim Lourenço, médico obstetra e presidente da Ordem dos Médicos da Região Sul.
O médico português sublinha que é preciso ter mais informações e desenvolver as investigações em curso, o que pode levar meses. “Um processo científico não é imediato, e saber porque é que o número de prematuros está a diminuir é o mais importante. Até pode ter sido uma coincidência.” Em Portugal, diz, ainda não há dados que permitam averiguar se esta tendência também se verifica.
“A explicação científica de porque é que ocorre pode ser diferente de grupo para grupo”, e o repouso e o resguardo de outras infeções podem ser determinantes para evitar os partos prematuros, diz Valentim Lourenço.
“As causas do nascimento prematuro são enganadoras há décadas. As formas de impedir o nascimento prematuro têm sido amplamente malsucedidas”, afirma Denise Jamieson, obstetra na Faculdade de Medicina da Universidade Emory, em Atlanta. Agora, os investigadores dinamarqueses e irlandeses uniram-se e estão a criar um grupo internacional de colaboradores para averiguar o efeito do confinamento em partos prematuros. As conclusões podem ser determinantes na área da obstetrícia, dando pistas para reduzir o número de prematuros no futuro.