Em Portugal, a febre é o segundo sintoma de infeção pelo novo coronavírus com mais registos (11 735), numa lista encabeça pela tosse (15 088), o sinal mais contabilizado. Seguem-se dores musculares e cefaleias (ambas com 8 382 cada), fraqueza generalizada (5 868) e, por fim, dificuldade respiratória (4 191).
O aumento da temperatura corporal desencadeia-se através dos mensageiros químicos libertados pelas células imunológicas que viajam para o hipotálamo, a zona do cérebro que controla a temperatura, “dizendo” para aumentar o calor dentro do corpo. Assim que o corpo deteta uma infeção, a temperatura pode subir, como parte da resposta imune para eliminá-la.
Em meados de janeiro deste ano soube-se que 36,6ºC é a nova temperatura corporal média normal, deixando para trás a bitola dos tradicionais 37ºC. O ser humano está assim meio grau mais frio, desde 1860. Se subir e ultrapassar os 37,8ºC é febre, seguramente. “É mais provável que os vírus morram quando a temperatura ultrapassa os 38ºC”, diz William Bird ao Daily Mail, clínico geral em Reading, Berkshire. As temperaturas mais altas não só matam o vírus diretamente, como também desencadeiam uma série de respostas no corpo que ativam a imunidade. Por exemplo, uma temperatura acima de 37ºC pode acelerar a atividade das proteínas NF-kB nas células, que ativam genes envolvidos na resposta imune, segundo um estudo de 2018 da Universidade de Warwick. Uma outra investigação mostrou que células específicas para matar vírus, as células T, também aumentam a sua atividade quando a temperatura sobe. “Acredita-se que baixar a temperatura pode atrasar as melhoras e prolongar as doenças”, acrescenta William Bird.
É importante sabermos que a temperatura corporal flutua naturalmente ao longo do dia e também da noite. Um estudo com base em leituras de mais de 300 pessoas descobriu que é mais baixa entre as três e as cinco da madrugada e mais alta entre as 16 e a 18 horas, com uma diferença de cerca de meio grau Celsius entre as duas vezes, de acordo com investigadores americanos que publicaram, em 2018, no Journal of General Internal Medicine. Sabendo isto, a manhã é a melhor hora para medir a temperatura basal. Mas, não nos podemos esquecer que a temperatura pode subir ao longo do dia em pacientes com Covid-19. “Se a pessoa estiver preocupada, deve fazer mais de uma medição ao longo do dia, por exemplo, de manhã, à tarde e à noite”, explica Patricia Macnair, especialista em envelhecimento e cuidados paliativos em Surrey. Atenção também a outros sintomas como tosse seca, perda de olfato ou de paladar e cansaço generalizado. Se persistirem, telefone para o SNS 24.
À medida que ficamos mais velhos, ficamos também mais frios. Mulheres mais jovens com um peso corporal normal tendem a ter uma temperatura corporal mais alta do que os homens mais velhos que estão acima do peso, segundo um estudo de 2011 publicado no Journal of Gerontology, que analisou a temperatura corporal de mais de 18 600 pessoas.
A mesma análise descobriu também que os homens eram, geralmente, mais frios do que as mulheres. Os investigadores sugeriram que as hormonas femininas podem desempenhar um papel determinante – a temperatura tende a descer após a menopausa e é conhecida por flutuar durante o ciclo menstrual. Outra conclusão desse mesmo estudo dizia que mulheres na casa dos 20 anos tinham uma temperatura corporal média de 36,5ºC, enquanto as de 80 anos tinham uma temperatura de 36,1ºC. Também nos homens foi encontrada uma queda semelhante. “Não sabemos por que isso acontece, mas o corpo geralmente fica mais lento à medida que envelhecemos e isso pode ser refletido na temperatura”, justifica Patricia Macnair.
Entre os inquiridos, quem tinha excesso de peso registava uma temperatura média superior, eventualmente, causada pelos produtos químicos inflamatórios libertados pela gordura. Surpreendente é a teoria de que uma temperatura corporal mais baixa pode estar associada a uma vida mais longa. Foi demonstrado que a redução da temperatura corporal em ratos aumentava a vida útil em cerca de 20 por cento.
Na hora de escolher qual o termómetro para usar em casa, os aparelhos de ouvido são mais eficazes, pois medem a temperatura do tímpano, que partilha o mesmo suprimento sanguíneo que o hipotálamo.
O stress pode causar um aumento da temperatura corporal, uma condição chamada febre psicogénica, mais comum em crianças e adolescentes. Em 2007, no Japão, os investigadores constataram que o stress ou a agitação psicológica e emocional foram responsáveis por 18% dos casos inexplicáveis de febre em crianças.
E, como não podia deixar de ser, as crenças populares nem sempre estão certas: quando se tem febre não se tem, necessariamente, calor; até pelo contrário, o mais natural será sentir arrepios de frio e tremor no corpo.