Os peritos sublinham que não há ameaça iminente, mas insistem que o caso tem de ser vigiado. Foi depois da análise aos vírus da gripe detetados em suínos entre os anos de 2011 e 2018 que uma equipa de investigadores chineses fez a descoberta: há uma estirpe do H1N1 que tem todas as características essenciais de um candidato a um vírus pandémico. E como os trabalhadores das suiniculturas analisadas também mostraram níveis elevados do vírus no sangue, a monitorização daquelas populações é, salientam, urgente.
Segundo a investigação que acaba de ser publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences, há sérias possibilidades de este se tornar mais um vírus capaz de atravessar a barreira das espécies, alcançando o ser humano, especialmente em regiões densamente povoadas na China. Onde vivem milhares de pessoas nas proximidades de explorações agrícolas, matadouros e mercados com animais vivos.
Os investigadores temem sobretudo uma mutação ainda maior que lhe permita não só propagar-se facilmente de pessoa para pessoa como desencadear um surto global. E rematam que, embora não seja um problema imediato, é um vírus muito semelhante ao H1N1, que gerou a crise pandémica anterior à Covid-19, em 2009, conhecida como Gripe A. “É necessária uma vigilância apertada. Como é novo, as pessoas terão pouca ou nenhuma imunidade.”
Um acontecimento raro, mas…
O vírus, a que os investigadores deram o nome de “G4 EA H1N1”, pode crescer e multiplicar-se nas células que revestem as vias respiratórias humanas. Como disse Kin-Chow Chang, investigador da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, citado pela BBC: “Neste momento, estamos distraídos com o coronavírus e com razão. Mas não devemos perder de vista os novos vírus potencialmente perigosos.”
Em teoria, uma pandemia de gripe pode ocorrer em qualquer altura, embora se considere que são acontecimentos raros. Ainda assim, os dados agora revelados estão a fazer eco em várias áreas da investigação. James Wood, chefe do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Cambridge, também no Reino Unido, assinalou que o trabalho é um lembrete salutar: “Estamos constantemente em risco de nos depararmos com novos agentes patogénicos.”