Um grupo de cientistas da Universidade de Exeter, em Inglaterra, e da Universidade de Connecticut, nos EUA, descobriu que existe uma correlação entre as pessoas que são portadoras de um genótipo que predispõe para a doença de Alzhaimer e o risco de contrair e ficar internado por causa da Covid-19.
João Delgado, investigador no Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade de Exeter, e também autor do estudo, explica à VISÃO como o estudo se desenvolveu. ” Dois estudos prévios baseados no Reino Unido, identificaram que indivíduos de terceira idade com demência tem maior probabilidade de ser hospitalizados no caso de infeção pelo vírus que causa da Covid-19″, relata Delgado, que trabalha com a Alzheimer’s Society, investigando a qualidade do tratamento de pessoas com demência, que, frequentemente, tem condições médicas adicionais, e procurando identificar modos de melhorar os cuidados médicos que estes doentes recebem.
O investigador refere que a pertinência deste estudo passa por saber se as pessoas da terceira idade com demência estão mais expostas ao vírus apenas por causa do gene defeituoso, ou se também se deve ao facto de existirem outras doenças que são consequência da demência. “Este estudo tenta clarificar se a causa deste acréscimo de risco está relacionado com os mecanismos patológicos de demência ou se resulta de outros fatores. Por exemplo, indivíduos com demência frequentemente tem doenças adicionais, como doença renal crónica ou diabetes mellitus que também foram associadas com suscetibilidade ao vírus da Covid-19”.
Na base deste estudo, publicado no Journal of Gerontology: Medical Sciences, estiveram os dados do Biobank do Reino Unido
Delgado explica que as pessoas que são portadoras do gene defeituoso são mais susceptíveis ao vírus do que as pessoas que têm o gene “normal” porque este gene afeta a estrutura e as funções do corpo. “Por exemplo, indivíduos com o genótipo defeituoso têm 14 vezes maior probabilidade de desenvolver demência”, exemplifica o investigador.
“O nosso estudo demonstra que a presença de caraterísticas genéticas que predispõem para demência, nomeadamente a presença do genótipo apoE ε4\ε4, que está associada ao risco acrescido de hospitalização por Covid-19, em comparação com indivíduos com genótipo mais comum, e afeta o metabolismo de lípidos e o processo inflamatório” , refere Delgado.
Durante a pesquisa, o grupo de cientistas descobriou que 2,36% dos indivíduos com registos genéticos no Biobank com ascendentes europeus tinham o gene defeituoso.
Apesar de ainda ser necessária uma pesquisa adicional para clarificar que os mecanismos que ligam o tal gene defeituoso à Covid-19 , o investigador não têm dúvidas de que este estudo contribui para compreender melhor “os mecanismos de infeção do SARS-CoV-2 e como estes causam Covid-19 com diferentes níveis de severidade”. “Este estudo também reforça a noção de que indivíduos com demência, particularmente doença de Alzheimer, são um grupo vulnerável à doença. Esta descoberta científica tem relevância no planeamento de medidas de saúde publica”, acredita.
A Alzheimer Europe estima que há cerca de 193 mil casos de demência em Portugal.