Chama-se Doctor Vida e cabe na palma da mão. Trata-se de um dispositivo portátil de deteção rápida do SARS-Cov2, com resultados ao fim de 30 minutos. A fiabilidade em termos de resultados, desta invenção da Stab Vida, uma empresa 100% portuguesa fundada há 19 anos, está a ser testada pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, através do Centro de Testagem Covid-19 que, desde o início da pandemia, já testou três mil pessoas, o que corresponde a um maior número de testes, pois há repetições das análises moleculares ao SARS-Cov2 (não são os testes serológicos). O Doctor Vida está a ser utilizado em paralelo e cada resultado é depois comparado com o teste de referência.

Ao criar um aparelho tão pequeno e de simples utilização, a Stab Vida tem como objetivo tentar reduzir o risco de transmissão do novo coronavírus, eliminando vários intervenientes na fase do teste, desde a recolha das amostras ao transporte para os laboratórios. Idealmente, o Doctor Vida será para ser usado nos hospitais (enfermarias e urgências, evitando ter de ir ao centro de patologia fazer o exame), centros de saúde, consultórios de pediatria e, eventualmente, farmácias. Sempre para uso profissional e não para fazer um diagnóstico caseiro. “A grande mais-valia deste aparelho é conseguir fazer testes em locais que não têm um laboratório de biologia molecular”, explica Raquel Chaves, responsável pelo Centro de Testagem. A rapidez associada à sua simplicidade completam as vantagens do aparelho. “O seu intuito é apenas dizer se uma pessoa está ou não infetada, no entanto, não permite saber, como os testes de laboratório, a sua carga viral”, exemplifica a professora universitária.
Nesta pandemia que é uma verdadeira corrida contra o tempo, obter um resultado em 30 minutos, em vez das 24 a 36 horas que demora a sair o resultado de um teste, torna este dispositivo ainda mais interessante e viável. “A lógica por trás do teste, ou seja, a parte molecular acaba por ser muito semelhante. A forma como chegamos ao resultado é que é diferente, uma vez que utilizamos enzimas diferentes, reagentes diferentes, que nos permitem obter um resultado com maior rapidez”, explica Gonçalo Dória, gestor de projeto, formado em Química Aplicada para o ramo de Biotecnologia, com doutoramento em Engenharia Biológica.

Esta não é a primeira vez que a Stab Vida envereda pelo desenvolvimento de produtos. Embora o seu grande negócio, desde o início, tenha sido à volta de genética e da genómica (ramo da genética que estuda o genoma completo de um organismo), mais centrado em clientes que são investigadores e alguns clínicos, a empresa tem laboratórios de serviços e um outro pequeno laboratório de investigação e desenvolvimento que foi criado exatamente para os produtos. No seu portefólio contam já com a produção de uma gama de produtos para detetar anticorpos para a doença de Alzheimer (tanto para diagnóstico como para terapia), diagnóstico de cancro do pulmão da forma congénita e, há cerca de três anos, desenvolveram um dispositivo que fazia diagnóstico da doença de Lyme a nível imunológico em 15 minutos.
Agora a equipa liderada por Raquel Chaves está a tentar tornar o Doctor Vida o mais sensível possível e muitas melhorias já foram conseguidas: algoritmo de deteção mais afinado; encurtar o tempo de análise com a sensibilidade pretendida; tornar o software mais user friendly para dar o maior número de dados possível que sirvam o clínico.
Em princípio – na melhor das hipóteses e depois de cerca de dois meses de testes, mais a análise do Infarmed para obter a certificação –, será no outono que este aparelho poderá ser mais necessário, como explica Raquel Chaves. Mais do que estar a contar com uma segunda vaga de Covid-19, será a época por excelência das vulgares constipações e gripes, cujos sintomas, alguns podem ser confundidos com a doença gerada pelo novo coronavírus. Com o Doctor Vida, o médico poderá desde logo rastrear as situações em consulta, não gerando uma ida massiva dos doentes às urgências hospitalares. Nos consultórios de pediatria, onde chegam tantas crianças com complicações respiratórias, como bronquiolites, infeções pulmonares, tosses e febres, a despistagem seria imediata.
Enquanto um aparelho de laboratório pode custar cerca de 15 mil euros, cada Doctor Vida poderá custar cem vezes menos (€150 a €200), assim como os testes serão dez vezes mais baratos (cerca de €15). No futuro, o objetivo passa por usar o mesmo dispositivo para diagnósticar outras doenças respiratórias (outros tipos de vírus, como zika ou influenza) ou genéticas.