Com a escola a funcionar apenas online e as brincadeiras a recomeçarem com a imposição de distanciamento social, as crianças sem irmãos são as que sofrem mais com o isolamento provocado pela Covid-19. “Andam geralmente mais irritadas, exigentes e birrentas”, diz Hugo Rodrigues, pediatra no hospital de Viana do Castelo, colunista da VISÃO e autor do blogue “Pediatria para Todos”.
“As crianças com irmãos sentem menos falta da socialização do que as outras. E, se tiverem idades próximas umas das outras, partilham brincadeiras e interesses”, explica. Quando são filhos únicos, é importante fomentar o contacto com os amigos, “nem que seja através das novas tecnologias”, acrescenta o pediatra.
Grande parte do dia das crianças é passada em contexto escolar, com amigos e colegas. Sem a escola ou creche, Hugo Rodrigues reconhece que “os filhos únicos deixam de ter uma forma de compensar o facto de estarem sozinhos em casa”. Contudo, acredita que “ao retomar a socialização, e normalizando-se o contacto com os outros, o isolamento se vai tornar rapidamente uma recordação”, pelo que não irá deixar marcas em termos de desenvolvimento. “As crianças são muito adaptáveis.”
Além disso, continua, “a duração do confinamento não foi assim tão longa para ter repercussões na saúde mental e emocional” das crianças. Mas, com ou sem irmãos, elas enfrentam hoje um período que pode causar stress e solidão.
As creches e o ensino pré-escolar retomaram atividade no dia 1 deste mês e os ATL/campos de férias preparam-se para abrir portas no dia 15. Hugo Rodrigues pede bom senso na forma como estes o irão fazer. “Temos de garantir a segurança das crianças e das pessoas de risco com quem convivem, bem como dos profissionais que lidam com elas. Mas temos também de garantir o conforto emocional das crianças: não podem ir para um ATL onde passam o tempo todo sozinhas sem interagir com as outras”, ressalva.