A utilização de máscaras por crianças é, ainda, um assunto pouco estudado. Se no caso dos adultos há centenas de investigações, indicações e relatórios, o mesmo não acontece em contexto pediátrico.
Assim, a Task Force da Aspher (acrónimo em inglês para Associação de Escolas de Saúde Pública da Região Europeia) para a Covid-19 resolveu fazer-se ao caminho.
O statement (linguagem científica para uma tomada de posição) está pronto, discutido e validado pelos pares, mas “dada a complexidade do tema”, explica Henrique Lopes, membro dessa task force e professor e investigador da Unidade de Saúde Pública do Instituto de Ciências da Saúde, da Universidade Católica, foi pedida, agora, a validação por parte da Associação Europeia de Pediatras e da Associação Europeia de Enfermagem Pediátrica.
Do documento, segundo revela à VISÃO, em primeira mão, Henrique Lopes, resulta que “as crianças não rejeitam as máscaras, o que acontece é que, na maioria das vezes, estas não são adequadas” e que “a idade pressupõe diferentes formas de reagir”.
Isto porque, apesar de existirem máscaras cirúrgicas e respiradores para crianças, elas são pouco utilizadas. O que acaba por acontecer é os miúdos usarem as mesmas que os adultos. “É como se eu vestisse a roupa de um adulto a uma criança. Ela não vai ficar confortável”, nota o autor do relatório. Além de que está pouco estudado se, até, os materiais de confeção devem ser os mesmos.
O trabalho – que é consultivo para organizações internacionais, no sentido de identificar os caminhos a seguir e o que é prioritário em termos de investigação – focaliza-se em quatro faixas etárias: até aos dois anos, dos dois aos quatro, dos quatro aos seis e a partir dos seis.
Nos mais pequenos de todos, a questão “ainda é bastante complexa”, revela o especialista. Na seguinte, dos dois aos quatro, é “resolúvel”, já que é possível fazer, primeiro, algumas brincadeiras iniciais para que, depois, haja recetividade. A questão prende-se com “o medo que as crianças têm” de ver alguém com uma máscara.
Dos quatro aos seis anos, prossegue, “já se consegue racionalizar o conceito de máscara”. Isto porque não têm todas de ter aquele aspeto cirúrgico, há “bonecada” que se pode meter para esboroar o medo. Na última faixa etária, analisa, o ideia já está lá, é apenas preciso um pouco de treino para a pôr e tirar da forma correta (sempre pelos elásticos ou atilhos, não se esqueça).
Durante toda a investigação para elaborar o relatório o professor e investigador ficou surpreendido com um dado que, mesmo para ele, parecia de senso comum. “Havia a ideia de que o comportamento das crianças perante as máscaras era pior do que o dos adultos. Mas não é bem assim.”